A Dra. Norah Terrault, médica e mestre em saúde pública, nunca vai esquecer de um paciente que ela perdeu. Ele tinha cerca de 50 anos e viveu com hepatite C por várias décadas antes de fazer o tratamento. Os antivirais aniquilaram o vírus, mas o fígado dele permaneceu com sequelas graves.
E então o paciente sumiu.
Quando a Dra. Norah o reencontrou, ele havia engordado e voltado a beber muito, duas coisas que sobrecarregam o fígado, já combalido. A ultrassonografia revelou um câncer de fígado.
“Isso nos mostrou a importância de não perder contato com os pacientes”, disse a Dra. Norah, diretora do centro de hepatologia viral da University of California, nos Estados Unidos.
Durante os últimos 15 anos os tratamentos antivirais de ação direta mostraram-se tão eficazes que quase todas as infecções crônicas pelo vírus da hepatite C podem ser curadas se tratadas adequadamente. Mas, muitos anos podem passar antes que a infecção seja detectada, deixando os pacientes com sequelas hepáticas. Como resultado, alguns deles têm risco de câncer e de outras doenças bastante elevado, e continuarão precisando da atenção de um especialista.
“Essa assistência é importante, mesmo que a cura da doença aumente a saúde do fígado”, disse o Dr. Paul Martin, médico e chefe de gastroenterologia e hepatologia da University of Miami, nos EUA.
“Você erradica o vírus da hepatite C e, como resultado, o tecido hepático cicatriza. Mas o risco de complicações, como o câncer de fígado, provavelmente nunca se torna nulo nesses pacientes.”
Melhores estratégias começam antes do tratamento
Ao iniciar o atendimento de um paciente com hepatite C, o profissional deve estadiar a doença antes de tratá-la, disse a Dra. Norah. A biópsia hepática raramente é necessária; o estágio da fibrose pode ser determinado por exames não invasivos, como a elastografia hepática.
Os exames de estadiamento combinam avaliações do grau de inflamação e de fibrose, e foram desenvolvidos e validados em pacientes não tratados. Pontuações de corte são usadas para definir fibrose avançada, incluindo cirrose. A inflamação diminui após a cura, portanto, a maioria dos exames não invasivos realizados neste momento mostra uma melhora, sem refletir com precisão os níveis de fibrose.
“Muito da assistência após a cura será definida pela gravidade da doença antes do início do tratamento”, disse a Dra. Nancy Reau, médica e professora de gastroenterologia, hepatologia e transplantes na Rush University, nos EUA. “Pacientes sem fibrose significativa serão reencaminhados aos médicos do serviço da atenção básica.”
Mas os pacientes com fibrose no estágio 3 ou 4, ou que têm risco de novos danos ao fígado, devem seguir o acompanhamento com um hepatologista ou gastroenterologista, disse ela.
Fonte: Medscape
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