Adolescentes verificavam seus telefones em média mais de 100 vezes por dia. É o que revela um estudo feito pela Common Sense Media, uma organização sem fins lucrativos dos EUA que ajuda crianças, pais e escolas a fazer melhor uso dos dispositivos de mídia. A enxurrada de notificações, juntamente com o uso do smartphone durante os dias letivos e à noite ou de madrugada, se combinam para criar uma relação poderosa, porém complicada, entre os adolescentes e seus smartphones.
Segundo o trabalho, mais da metade dos participantes do estudo recebeu 237 ou mais notificações por dia.
Para o estudo, a Common Sense Media utilizou um software para coletar dados dos smartphones de uma amostra diversificada de cerca de 200 adolescentes de 11 a 17 anos, todos usuários de telefones Android, que concordaram em participar da pesquisa. Os dados foram interpretados com a ajuda de um conselho consultivo de jovens para compreender as relações que os adolescentes desenvolvem com os seus smartphones.
Os dados fornecem informações sobre o impulso e a atração que os adolescentes sentem com os seus telefones, incluindo os aplicativos que adoram, a pressão que sentem para responder e as estratégias que utilizam para equilibrar o tempo de uso do smartphone. Por exemplo, embora o TikTok fosse um dos aplicativos mais populares e de maior duração para adolescentes no estudo, um membro do conselho juvenil disse que "o algoritmo do TikTok é muito mais viciante… atrai você mais", relata a Common Sense Media, em comunicado.
"Este relatório deixa bem claro que os adolescentes estão lutando para gerenciar o uso do telefone, o que está prejudicando seriamente sua capacidade de concentração e saúde mental em geral", disse James P. Steyer, fundador e CEO da Common Sense Media, em comunicado. "Os jovens precisam de mais apoio de familiares e educadores, bem como de barreiras de proteção claras por parte das pessoas que desenvolvem a tecnologia, que estão intencionalmente projetando esses dispositivos para serem viciantes, em detrimento do bem-estar das crianças".
O resultado do estudo mostrou que quase um quarto (23%) das notificações chegou durante o horário escolar, sugerindo que os telefones e os aplicativos poderiam fazer evitar enviar alertas desnecessários em horas do dia em que os adolescentes precisam estar concentrados.
Durante o horário escolar, quase todos os participantes usaram seus telefones pelo menos uma vez, por uma média de 43 minutos, e mais de seis horas — em casos mais extremos. Os membros do conselho juvenil explicaram que as políticas escolares relativas ao uso de smartphones são inconsistentes, com regras variando de sala de aula para sala de aula.
"Os smartphones se tornaram uma força sempre ativa e às vezes perturbadora na vida dos jovens", declarou Jenny Radesky, diretora da Divisão de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento do Hospital Infantil CS Mott da Universidade de Michigan, codiretora médica do Centro Pediátrico de Excelência em Mídias Sociais e Saúde Mental Juvenil da Academia Americana e coautor do relatório, em comunicado . "Como a indústria não conseguiu oferecer aos jovens melhores opções para gerir os seus smartphones, os adolescentes estão trabalhando arduamente para aprender a como estabelecer limites".
Além das atualizações constantes, a pesquisa também descobriu que os smartphones prejudicam, mas também ajudam o sono dos adolescentes. Desde a rolagem interminável do TikTok até o uso do YouTube como ruído branco (para acalmar), os telefones de alguns adolescentes funcionam quase a noite toda. Os membros do conselho juvenil observaram que às vezes os seus dias são tão ocupados que só conseguem relaxar com o telefone na hora de dormir, mas isso leva a dormir muito mais tarde nas noites escolares.
"Sinto que todos nos sentiríamos muito melhor se usássemos menos. Quando perdi meu telefone… fiquei sem telefone por uma semana, e aquela semana foi incrível", disse um membro do Conselho Juvenil do 11º ano (que seria o 3º ano do Ensino Médio no Brasil), no comunicado. "Só não ter um telefone tira esse peso de você. De certa forma, quase te liberta."
Fonte: O Globo
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