Aos 20 anos, a influenciadora Manuela Cit está sendo criticada nas redes sociais por ter anunciado, na quarta-feira (11), que desistiu do curso de medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela estava no 4º período e havia sido aprovada assim que concluiu o ensino médio.
➡️Usuários do TikTok e do Instagram alegam que Manu "vendia" aos seus mais de 3 milhões de seguidores uma rotina insustentável a médio prazo: ela acordava às 4h da manhã todos os dias, corria na praia, estudava em período integral (das 8h às 17h), ia da universidade direto para a academia, treinava mais um pouco, revisava os conteúdos das aulas, preparava refeições proteicas e dormia (cedo). Nos intervalos, ainda encaixava todas as "publis", os posts nas redes sociais e as reuniões como empreendedora.
Rapidamente, as críticas viraram ataques mais violentos, inclusive em grupos de alunos da faculdade. Afirmaram, por exemplo, que Manu havia sido reprovada em anatomia, que mal aparecia nas aulas e que tinha "nojo dos pacientes pobres" que encontraria. Foi chamada até de "vagab****".
Ao g1, ela desmentiu todos os boatos [leia mais abaixo] e explicou que trancou a matrícula simplesmente porque não se enxergava mais na profissão — a falta de afinidade com o curso ficou mais clara depois do início das aulas práticas. Disse também que queria ter mais tempo para o que realmente gosta de fazer: gravar vídeos sobre vida saudável e dedicar-se à sua empresa de suplementos.
"Por quase dois anos, eu consegui seguir minha rotina. Só que, quando você não quer fazer algo, fica insustentável. É como um relacionamento. Às vezes, quando acaba, você não ama mais o namorado. Mas você [o] amou antes, e isso não anula sua história com ele. Eu dava conta [de tudo] e ainda tinha muito tempo pra fazer várias outras coisas, de ter lazer com os meus amigos", afirma.
Ela admite que é "um privilégio poder sair [do curso]". "Muitas pessoas não têm esse poder de escolha de interromper aquilo que elas se incomodam de fazer", diz.
Ameaças de morte e ambiente hostil na UFRJ
Manu Cit divide sua rotina saudável nas redes sociais — Foto: Reprodução/Redes sociais
Manu justificou o motivo de ter dito, nas redes sociais, que o ambiente da UFRJ é hostil. Ela conta que:
sofreu ameaças de agressão e de morte (e optou por não fazer denúncias formais, já que "não via nada o que pudessem fazer para impedir isso");
ouviu comentários horríveis feitos por colegas;
foi vítima de histórias "inventadas" a seu respeito;
presenciou problemas graves de infraestrutura na instituição.
"Fiz poucos amigos, e muitos amigos que eu fazia se aproximavam de mim para criar histórias. Fui me fechando, lógico", afirma.
"Muitas pessoas foram muito malvadas comigo a troco de nada. Eu nunca fiz nada negativo para ninguém lá, nunca invadi o espaço de ninguém, mas, desde o primeiro dia em que pisei na faculdade, inventaram coisas horríveis sobre mim. Ameaçaram de me bater, de me roubar e de me matar."
Manuela reforça, no entanto, que nenhum desses problemas teve relação com a decisão de interromper o curso.
"Acho feio o que estão fazendo de inverter minhas falas e criar um personagem que eu não sou. Mas passei por um processo de entender que isso está completamente fora do meu controle! O hate é incontrolável. Não posso dar o poder de outras pessoas me abalarem a troco de nada", afirma.
Sobre as condições da UFRJ, a influencer diz que é nítida a necessidade de maiores investimentos.
"É muito precário; o governo precisa olhar para o universitário mais do que nunca. Eu vi um gambá em cima de um cadáver uma vez. Não estou falando isso para deixar triste quem estar lá, mas para abrir os olhos do governo com o meu poder de influência! O hospital tem pouquíssimos elevadores funcionando, e muitas áreas estão abandonadas", conta.
O g1 entrou em contato com a UFRJ e com o Ministério da Educação (MEC) para comentarem a declaração de Manuela.
Em nota, a pasta afirmou que “a necessidade de manutenção de infraestrutura da UFRJ e de outras universidades federais não é um problema atual e decorre da política implementada nos últimos anos, desde 2016, que reduziu drasticamente os valores para manutenção das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes)”.
O ministério alega que, desde 2023, busca solucionar a situação, e diz que as universidades têm autonomia para administrar seus recursos.
A UFRJ não havia respondido até a mais recente atualização desta reportagem.
'Nunca fui reprovada; essa é uma das maiores mentiras', diz
Um suposto print de conversa de Whatsapp (veja acima) viralizou nas redes sociais: mostra colegas de Manu comentando que ela havia sido reprovada em uma disciplina de medicina.
"Eu nunca reprovei em anatomia, nem em outra matéria. Eu duvido alguém conseguir provar que eu reprovei, porque eu nunca reprovei. Essa é uma das maiores mentiras que estão falando sobre mim. E ainda, se eu tivesse reprovado, eu não vejo problema. Eu sou um ser humano, não sou uma máquina. Mas anatomia era uma das minhas melhores matérias", diz ao g1.
Ela também nega ter sido relapsa durante o curso.
"Como todo mundo, já cheguei atrasada, já 'matei' aula, sim, porque eu tinha outras responsabilidades. Mas isso nunca me impediu de ser uma boa aluna, uma aluna dedicada. Eu faltava, mais ou menos, uma aula por semana, de 20 aulas. Tanto que a universidade exige presença mínima de 75%, e eu sempre cumpri com isso."
'Estudar medicina não foi em vão'
Por mais que o curso de medicina no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) seja um dos mais concorridos do processo seletivo, Manuela não acha que "desperdiçou" uma chance ao decidir trancar a matrícula. Também não se arrepende de ter cursado quatro semestres.
"Tudo o que a gente faz traz um aprendizado. Eu pelo menos sei estudar, sei aprender e vou saber levar isso pra todas as esferas da minha vida", conta.
O plano dela é tentar uma transferência para o curso de nutrição em outra universidade, sem ter de prestar novamente o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
"Estou muito feliz com a minha decisão. Pretendo continuar empreendendo e vou entrar em novos negócios. Também vou investir na minha carreira de influenciadora, porque sei que tenho muitas coisas boas a oferecer."
Fonte: G1
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