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Bacalhau e chocolate: as riquezas nutricionais da Páscoa




Exigimos continuamente de nós mesmos condutas alimentares que nos enclausuram em nichos de comportamento impostos por sinalizações de várias origens. Constantemente nos vemos entre o que nos acode com o conforto e aquilo que nos promete, ao menos momentaneamente, uma vida longa e saudável.


Obviamente, raros são os mortais que se limitam exclusivamente ao lado supostamente correto da trincheira. Especialmente em ocasiões festivas de ritos gastronômicos típicos, somos colocados à prova diante de alguns ícones alimentares.


O período da Páscoa exemplifica esse contexto, agregando itens que transitam entre o bem e o mal, a depender do observatório.


O bacalhau é presença frequente nas mesas nesta época do ano e em sua versão mais nobre. Já dessalgado, possui carne macia e saborosa, composta de pouca gordura e muita proteína, além de portar quantidade generosa de nutrientes, que já lhe credenciariam a participar de qualquer dieta saudável.


Ainda assim, esse peixe pode ser contestado pela companhia que a receita disponibiliza, mas em sua apresentação mais clássica está acompanhado de azeite de oliva, gordura de grande valor nutritivo reiteradamente validado por pesquisas.


Exemplo dessa legitimação é o artigo publicado em 2022 pelo Journal of the American College of Cardiology (JAAC), contemplando 28 anos de acompanhamento de mais de 90 mil adultos americanos. A pesquisa concluiu que, para o grupo estudado, consumir ao menos meia colher de sopa de azeite de oliva por dia providenciou redução significativa nas chances de morte por câncer, doenças cardiovasculares, neurodegenerativas ou respiratórias, quando comparado com pouco ou nenhum consumo.


Se a afinadíssima dupla supracitada simboliza parte do hábito alimentar pascal, não o faz na dimensão do maior embaixador gastronômico do feriado religioso, o chocolate.


Habitando incansavelmente nosso imaginário, ao consumi-lo estamos divididos entre o prazer gustativo e sensorial e a culpa latente pelo que se compreende danoso a partir de seus açúcares e gorduras saturadas. Estamos sempre à espreita de uma nova descoberta que posicione seus qualificados compostos para além de seus “defeitos” calóricos e aterogênicos.


Alguns se assumem chocólatras, aceitando a impossibilidade de resistir ao desejo. Outros o consomem a despeito de seus possíveis riscos, sob os mais variados argumentos, sendo detidos apenas pela plena saciedade. Poucos vigiam seu consumo.


Recentemente, artigo publicado no British Medical Journal (BMJ) apontou que no grupo estudado comer frequentemente chocolate amargo está associado a um risco reduzido de desenvolver diabetes tipo 2 (DM2).


O estudo avaliou, por até 34 anos, mais de 190 mil profissionais de enfermagem de vários centros, deduzindo que as chances de ocorrência de DM2 foi 21% menor entre aqueles que consumiam uma porção de chocolate amargo cinco vezes por semana.


Os flavonoides são componentes da semente do cacau com reconhecidas ações anti-inflamatória, antiagregante, plaquetária, antioxidante, vasodilatadora, moduladora do sistema imunológico e facilitadora da recepção periférica da insulina.


Existe farto volume de investigações científicas indicando que essas substâncias fornecem variadas proteções em inúmeros sistemas orgânicos e para a relação protetiva contra o diabetes tipo 2 é sugerido que a facilitação da ação da insulina seja a explicação mais provável, o que tornaria melhor o consumo de chocolates mais concentrados, assertiva que fundamenta os resultados da pesquisa descrita.


Mas, se tudo pode ser alimento, remédio ou veneno, sendo simplesmente uma questão de dose, sempre nos caberá a moderação como melhor estratégia, inclusive na Páscoa!


Fonte: O Globo

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