Hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês receberam autorização para usar plasma de pacientes curados de coronavírus
O consórcio do Albert Einstein, Sírio-Libanês e Universidade de São Paulo recebeu autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para começar a fazer testes clínicos com o plasma do sangue de pessoas que se recuperaram do coronavírus em pacientes em estado grave. Nos Estados Unidos, a agência que regulamenta medicamentos, a Food and Drug Administration (FDA), também autorizou o tratamento experimental.
Chamado de plasma convalescente, rico em anticorpos, ele já vem sendo usado por décadas para tratar doenças infecciosas, como o ebola e a influenza. Também mostrou eficiência na epidemia da Sars.
“Se a terapia funcionar como nós estamos esperando, dentro dos parâmetros que nós estamos esperando, ela deve ser útil para evitar que um grande número de pessoas vá para a UTI. Que é justamente aonde está o maior gargalo. Você tem bem menos gargalo, felizmente, na internação comum do que em UTI, porque os números de leitos são bem menores. Então, o objetivo da pesquisa, entre outras coisas, é claramente diminuir o número de pacientes que necessitem de suporte de Terapia Intensiva”, disse Luiz Vicente Rizzo, diretor de pesquisa do Hospital Albert Einstein, ao Jornal Nacional deste sábado (4).
Os testes podem começar nos próximos dias, mas ainda não foram confirmados ou estimados.
O QUE DIZEM AS INSTITUIÇÕES SANITÁRIAS
Em nota, a Anvisa reconheceu o potencial de ser uma opção para tratamento da Covid-19, mas fez a ressalva de que o tamanho limitado de amostras e o desenho dos estudos impedem ainda a comprovação definitiva sobre a eficácia. Disse ainda que é papel dela alertar que não existem evidências científicas conclusivas sobre a eficácia do tratamento, mas que os estudos clínicos com o plasma para a Covid-19 não precisam ser aprovados pela agência.
Já o Ministério da Saúde garantiu que está revisando a literatura científica para avaliar se há dados suficientes e robustos a respeito da eficácia da utilização da técnica. Segundo eles, continuam em contato com centros hemoterápicos que deram início aos protocolos de pesquisa. Se houver evidência da efetividade de novas terapias, o Ministério diz que pode compartilhar orientações para o uso delas pelo serviço de saúde.
“Eu entendo hoje que a maior dificuldade realmente vai ser definir aqueles doadores que de fato são convalescentes. Quem são esses, quem são esses pacientes, que, na verdade, são esses pacientes, de fato como que eles vão ser definidos, como que eles vão ser definidos como curados. Nós temos que ter critérios, nós temos que refletir sobre isso, exatamente qual o melhor doador, qual o melhor momento, o fato é que o tempo urge. E nós precisamos fazer isso no intervalo mais curto de tempo”, disse Daniel Tabak, hematologista, oncologista e membro titular da Academia Nacional de Medicina, também ao Jornal Nacional.
A EXPERIÊNCIA CHINESA
Cinco pacientes em estado grave diagnosticados com a Covid-19 apresentaram melhora após o tratamento com plasma de pessoas que adquiriram o novo vírus e se recuperaram. Os resultados fazem parte de uma pesquisa feita por um hospital da China, divulgada na última segunda (30) pela revista de pesquisa científica Jama.
Os doentes, com idades entre 36 e 73 anos, receberam a transfusão de plasma com um anticorpo específico neutralizados do Sars-Cov-2, o nome científico do novo coronavírus.
Após a transfusão, a temperatura corporal de quatro pacientes voltou ao normal em três dias e as cargas virais diminuíram após 12 dias. Três dos cinco pacientes tratados voltaram a respirar sem a ajuda de aparelhos dentro de duas semanas. Eles receberam alta hospitalar após permanecerem internados cerca de 50 dias. Os outros dois estão em condição estável após 37 dias da transfusão.
Os doadores de 18 a 60 anos haviam se recuperado da infecção e consentiram em fazer a doação sanguínea para a pesquisa. Ainda faltam testes para garantir a afirmação definitiva de que este pode ser um tratamento padrão.
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