Uma nova campanha, a Healthy Drinks, Healthy Kids (bebidas saudáveis, crianças saudáveis), promove a importância de escolhas saudáveis de bebidas para crianças menores de cinco anos, buscando reforçar o consumo de leite materno, leite de vaca e água, restringir os sucos e evitar a maioria dos leites de origem vegetal.
A ideia veio de um grupo de especialistas representando quatro organizações –Academy of Nutrition and Dietetics, American Academy of Pediatric Dentistry, American Academy of Pediatrics e American Heart Association. As recomendações orientam que as crianças bebam principalmente leite e água, reduzam consumo de sucos e evitem a maioria dos leites de origem vegetal.
A Robert Wood Johnson Foundation financiou a Healthy Eating Research, que reuniu o grupo de especialistas. As recomendações foram publicadas on-line em um relatório técnico com 62 páginas como parte de um site para pais, mães e responsáveis.
“Essas recomendações foram feitas para lidar com as dúvidas sobre o que é apropriado para as crianças beberem e sobre a introdução de bebidas específicas para cada idade. Quase metade das crianças de dois a cinco anos de idade consome bebidas açucaradas todos os dias”, disse o Dr. Kevin Donly, presidente da American Academy of Pediatric Dentistry e do Departamento de Odontologia e Desenvolvimento da University of Texas, nos Estados Unidos.
As diretrizes buscam ajudar médicos, pais e responsáveis a navegar pelo mundo das imagens com desenhos coloridos que enfeitam caixas de suco e slogans que podem deturpar o valor nutricional das bebidas direcionadas às crianças.
“Desde a sua criação, a marca X remete à infâncias alegres, cheias de energia e diversão”, proclama a embalagem de um achocolatado popular há décadas. A energia, é claro, vem do xarope de milho com alto teor de frutose, o segundo ingrediente depois da água.
“As empresas de bebidas têm um objetivo: vender seus produtos. Elas sabem que as crianças adoram o sabor adocicado e que os pais querem oferecer opções saudáveis aos filhos, então eles garantem produtos com sabor doce, mas os comercializam de forma que os pais pensem que são saudáveis”, disse a Dra. Natalie Muth, mestre em saúde pública, membro do grupo de especialistas e pediatra no Children’s Primary Care Medical Group, nos EUA, e porta-voz da American Academy of Pediatrics.
Gráfico com base na idade
O grupo desenvolveu um gráfico com base na idade para orientar os pais, recomendando que nenhuma criança com menos de cinco anos tome leite com sabor, fórmulas de seguimento (também conhecidas como de “desmame” ou de “transição”), a maioria dos leites de origem vegetal ou bebidas cafeinadas ou adoçadas com açúcar ou substitutos.
As recomendações são:
Antes dos seis meses, os bebês devem tomar apenas leite materno ou fórmula.
De 6 a 12 meses, podem beber água durante as refeições – ao começarem a alimentação sólida, mas devem evitar o consumo de sucos.
De 12 a 24 meses, podem beber leite de vaca integral e água. Um pouco de suco de fruta (100% fruta) é aceitável.
De dois a cinco anos, “de preferência, leite e água”, sendo que o leite deve conter pouca gordura ou ser desnatado. Um pouco de suco de fruta (100% fruta) é aceitável.
Angela Lemond, nutricionista e porta-voz nacional da Academy of Nutrition and Dietetics, complementou as recomendações. “Incentivamos os pais a alimentarem seus filhos com frutas inteiras cortadas em pedaços, em vez de lhes dar sucos. Se uma criança com menos de cinco anos de idade consumir suco, que seja 100% da fruta, sem açúcar e apenas de 120 mL a 180 mL, dependendo da idade.”
“Crianças de um a três anos podem consumir até 120 mL de suco integral e crianças de quatro a cinco anos podem consumir até 180 mL. Adicionar água pode fazer um pouco de suco render muito.”
Leites de origem vegetal
Os leites de origem vegetal representam um desafio. Os dados mostram um aumento nas vendas dos leites vegetais, feitos de amêndoa, aveia, arroz, coco, soja, castanha de caju ou avelã, mas não do consumo por faixa etária.
Esses produtos não são necessariamente perigosos, mas não são nutricionalmente equivalentes ao leite de vaca, com exceção do leite de soja, disse a Dra. Natalie.
“A preocupação é que essas bebidas substituam o leite e que, consequentemente, as crianças deixem de receber quantidades suficientes de nutrientes importantes, como cálcio, vitamina D e proteína.”
Os fitatos das sementes, geralmente esmagadas para produzir o leite, ligam-se ao zinco, magnésio e ferro. Angela acrescentou que o corpo em crescimento de uma criança não consegue absorver adequadamente as vitaminas adicionadas aos leites de origem vegetal.
Para crianças com alergia a laticínios, “recomendamos fazer acompanhamento com um nutricionista especializado em crianças. É importante que toda a dieta seja analisada para assegurar que a criança receba orientação individualizada garantindo os ajustes adequados”, disse Angela.
Cerca de 2,5% das crianças menores de três anos são alérgicas ou intolerantes ao leite de vaca, de acordo com o relatório.
“Para crianças com intolerância à lactose, recomenda-se o leite de soja enriquecido”, disse o Dr. Kevin.
Para as famílias que desejam usar os leites vegetais como parte de uma alimentação vegetariana ou vegana para substituir total ou parcialmente o leite de vaca, as recomendações afirmam que “é preciso muita atenção à seleção de outras opções alimentares para fornecer os nutrientes que de outra forma seriam consumidos por meio do leite de vaca”.
Para obter ajuda, os pais devem consultar um profissional de saúde, como um pediatra e/ou nutricionista, recomenda o grupo. Se as bebidas de origem vegetal fizerem parte da alimentação de uma criança, atenha-se às variedades sem açúcar.
Leite doce
O leite achocolatado pode ser um obstáculo para algumas famílias, especialmente quando os pais têm boas lembranças de uma caixa de leite achocolatado no epicentro de uma bandeja de almoço na lanchonete da escola há muito tempo, ou lembram o atraente rio marrom de Willy Wonka e a Fantástica Fábrica de Chocolate. Como eles podem negar esse deleite aos próprios filhos?
Infelizmente, a ciência sugere abandonar as bebidas achocolatadas.
“Apesar do leite ser nutritivo para as crianças, o achocolatado contém muito açúcar. Eles aumentam o risco de diabetes tipo 2, cardiopatia, esteatose hepática, cáries e obesidade infantil. É muito melhor oferecer leite às crianças quando elas são jovens, para que continuem gostando e tomando leite quando forem mais velhas”, disse a Dra. Natalie.
Embora as preferências de paladar costumem estar bem definidas quando a criança começa a estudar, com exposições repetidas, mesmo as crianças mais velhas podem aprender a gostar de novos sabores, ela acrescentou.
O Dr. Kevin também ponderou sobre o leite achocolatado. “Semelhante a outras bebidas à base de carboidratos, o leite achocolatado contém açúcar para realçar o sabor. O achocolatado também tem cálcio, o que é bom; então é melhor que o refrigerante.”
“Crie a opção padrão”
A Dra. Natalie sugeriu adotar uma abordagem direta para seguir as diretrizes. “Mantenha apenas água e leite em casa e faça com que essas bebidas sejam a opção padrão para as crianças pequenas. Estas são as melhores bebidas para o resto da família também.”
Angela também aconselhou a abordagem direta em restaurantes. “Gostaria de beber água ou leite? As duas opções são aceitáveis e a criança pode escolher.”
As novas diretrizes podem servir de proteção para os pais que estão no corredor de sucos do mercado com uma criança manhosa e suplicante. Por exemplo, o rótulo da caixa de suco que afirma audaciosamente ter como objetivo “fornecer à sua família sucos saudáveis e puros, tão saborosos quanto benéficos para você e seus filhos” não é consistente com as recomendações e pode ter que alterar em breve essa mensagem.
Sinais precoces sugerem que essa mudança pode estar a caminho, com mais embalagens adicionando etiquetas brilhantes proclamando “50% de açúcar”.
As novas recomendações devem catalisar essa tendência na direção certa. “As preferências de alimentos e bebidas são formadas muito cedo”, disse Angela.
“Nunca é cedo demais para começar a alimentar bem os nossos filhos, para que eles trilhem um caminho de saúde adequado.”
Os autores informaram não ter conflitos de interesses.
Fonte: Medscape
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