O risco de morte de pessoas idosas pode ser estabelecido por meio de 14 marcadores bioquímicos, de acordo com pesquisadores da Holanda.
Uma equipe liderada pelo Dr. Joris Deelen, do Departamento de Ciências Biomédicas da Leiden University, determinou o risco de morte com precisão de 5 a 10 anos.
A lista de biomarcadores é composta de diferentes lipídios e aminoácidos. Em um artigo no periódico Nature Communications, os autores disseram que a qualidade das decisões clínicas pode aumentar em função desses marcadores.
“Como gerontologistas, queremos identificar a idade biológica, porque a idade oficial não diz muito sobre o estado geral de saúde dos idosos”, explicou a coautora, Dra. Eline Slagboom.
É possível encontrar uma pessoa de 70 anos muito saudável, e outra com várias doenças, disse ela. “Agora temos diversos biomarcadores à nossa disposição com os quais podemos identificar idosos em risco e tratá-los da maneira apropriada.”
Muitas perspectivas, muitos riscos
“Antes de tudo, deve-se notar que os autores não defendem a aplicação, na prática atual, da sua pontuação de risco para fins de pesquisa ou para uso clínico”, comentou a Dra. Annette Rogge, do Germany’s Science Media Centre. A Dra. Annette presidente e diretora do Comitê de Ética Clínica do University Hospital of Schleswig-Holstein, e chefe interina da unidade de ética médica do Institute for Experimental Medicine da Christian Albrechts University of Kiel.
Dr. Joris e colaboradores, no entanto, discutiram como pode ser significativo determinar se um paciente idoso é muito frágil para um procedimento invasivo, ao identificar se ele pertence a um grupo com risco de morte elevado nos próximos 5 ou 10 anos (independentemente da doença), acrescentou a Dra. Annette.
Ela ressaltou que muitos fatores desempenham um papel importante, como aspectos da medicina baseada em evidências e a vontade dos pacientes.
“Prever o desfecho individual do paciente com confiabilidade seria muito útil para tomar uma decisão”, disse ela.
“No entanto, o método descrito fornece apenas uma probabilidade de que esse paciente pertença a um grupo que apresenta determinado risco de morrer independentemente da doença nos próximos 5 ou 10 anos”. Além disso, o benefício do teste para prevenção é “muito abstrato”, disse ela.
Segundo a Dra. Annette, existem alguns perigos:
Como podemos evitar que as avaliações estatísticas de risco ganhem importância excessiva em termos de definição das metas de tratamento?
Como podemos evitar que pacientes pertencentes a grupos de alto risco estatístico sofram algum tipo de discriminação?
Quem comunica esse risco e o significado dele para o paciente?
Como os médicos devem ajudar os pacientes a lidar com essa informação?
Como os médicos devem proteger o direito do paciente de não querer saber?
A Dra. Annette concluiu: “O uso do teste baseado em biomarcadores para os riscos de mortalidade apresentados aqui deve ser avaliado de forma muito crítica em termos de decisões de tratamento em indivíduos, tanto hoje como no futuro.”
Melhores escolhas?
No entanto, a Dra. Annette reconheceu que os médicos têm procurado fazer melhores escolhas há muitos anos, como compreender se uma intervenção seria de fato boa para pacientes mais velhos. Cirurgia ou quimioterapia nem sempre são as melhores soluções – e nem sempre são o melhor para o paciente.
Modelos animais (nematódeos ou camundongos) até agora têm sido o foco de pesquisas que buscam marcadores adequados para a “idade biológica”.
A equipe do Dr. Joris trabalhou com amostras sanguíneas de 44.168 participantes de 12 coortes (coorte Alpha-Omega, estudo ERF, coorte FINRISK 1997, estudo DILGOM, LLS nonagenários, LLS filhos e parceiros, PROSPER, estudo de Roterdã, ALSPAC, EGCUT, KORA F4 e TwinsUK). No início, os participantes tinham entre 18 e 109 anos. Destes, 5.512 morreram durante o acompanhamento que foi de 2,76 a 16,7 anos, dependendo do estudo.
Inicialmente, os pesquisadores identificaram 159 biomarcadores por meio de uma plataforma padronizada. Este número diminuiu para 14 moléculas de acordo com análises biomatemáticas que foram associadas à mortalidade geral, independentemente de outros fatores.
Estes marcadores incluem os lipídios totais nos quilomícrons e na lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL), os lipídios totais na lipoproteína de alta densidade (HDL), o diâmetro médio das partículas de VLDL, a proporção de vários ácidos graxos insaturados sobre a quantidade total de ácidos graxos, glicose, lactato, histidina, isoleucina, leucina, valina, fenilalanina, acetoacetato, albumina e glicoproteínas acetiladas.
Pontos fortes e fracos
Esses biomarcadores estão envolvidos em vários processos, como metabolismo de lipoproteínas e ácidos graxos, glicólise, balanço hídrico e processos inflamatórios. “Embora muitos tenham sido associados à mortalidade no passado, este é o primeiro estudo que mostra seu efeito independente quando combinados em um modelo”, escreveram os autores do estudo.
No que diz respeito a outros pontos fortes, eles destacaram o grande número de participantes do estudo e o estudo de metabólitos já bem estabelecido. No entanto, eles apontaram algumas restrições, dado que 14 parâmetros apenas “representam uma fração do metabolismo”. No entanto, o Dr. Joris e colaboradores querem integrar seu método de pontuação em ensaios clínicos em andamento para coletar mais dados.
Fonte: Medscape
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