As formas de se relacionar romanticamente podem ser incontáveis e a hipergamia é apenas uma das possibilidades. No cinema, na arte e na literatura são incontáveis os exemplos, como: a personagem de Julia Roberts no filme "Uma Linda Mulher" ao lado de Richard Gere; Audrey Hepburn no papel da "Bonequinha de Luxo", que procurava garantir um homem que lhe proporcionasse uma vida cheia de luxos e bens materiais; Rob Schneider em "Gigolô Europeu por Acidente", que buscava conquistar mulheres com alto poder aquisitivo. A prática de relacionamento, nada mais é, do que em procurar um companheiro com um melhor nível social ou econômico que o da própria pessoal.
O dicionário define a hipergamia como um "casamento com uma casta ou grupo social igual ou superior". Atualmente, o termo refere-se a uma forma de relacionamento, que pode não ser formal, que envolve ato ou prática de flertar ou ter um vínculo amoroso com alguém com condição financeira ou social melhor do que a própria pessoa.
A palavra é composta por: hiper, um prefixo que denota superioridade ou excesso, e gamia, que deriva do grego 'gamos' e significa: união íntima, casamento. Apesar do termo ter se tornado popular recentemente, o conceito de compromissos por interesse existe há anos.
— É uma forma de se relacionar que, no passado, era mais aceita e comum porque as mulheres não trabalhavam nem tinham liberdade individual, então era bem visto que garantissem um sustento para seus filhos e para elas mesmas por meio desses vínculos. Hoje, por outro lado, não há mais motivos para buscar fora de si aquilo que se pode ter ou desenvolver por conta própria — explica a psicóloga Carolina Moché.
Hipergamia: Como é o tipo de relação que perdura no tempo?
Na época patriarcal, a concepção romântica do amor e de se apaixonar como a conhecemos hoje não existia, predominava a "conveniência". Para Moché, apesar de hoje existir mais autonomia pessoal e se promulgar a ideia do "eu posso", a psicóloga não acredita que a hipergamia tenha diminuído. "As pessoas têm sido inseguras ao longo da história da humanidade e ainda somos", aponta a especialista. Segundo ela, essa forma de se relacionar está ligada à crença de que só é possível conseguir algo através de outra pessoa porque não se reconhece o próprio valor ou não se considera forte o suficiente.
Segundo a profissional, a hipergamia continua a existir, mas de forma "mais oculta", por trás do uso de outras palavras ou formas, já que em outros tempos era mais comum e não era "mal vista como é hoje".
A hipergamia parece estar longe de desaparecer. Um estudo de 2016 realizado pela Universidade de Columbia revela que, embora as mulheres, atualmente, tenham mais diplomas universitários do que os homens, ainda têm 93% mais chances de se casar por motivos de melhoria financeira.
Além disso, um relatório publicado pelo National Bureau of Economic Research (NBER) indica que ganhar prêmios na loteria aumenta a probabilidade de casamento e de ter filhos — independentemente de já ter casamento —, enquanto os efeitos sobre a taxa de divórcio são praticamente nulos.
Aplicativos de namoro também promovem a hipergamia?
Os aplicativos de namoro buscam destacar aspectos das pessoas, geralmente físicos, além de com características demográficas e educacionais. "Eles substituem a forma como as pessoas se reuniam em um local antes, fisicamente falando, só que agora acontece de forma simplificada e virtual", diz Moché. Nos aplicativos, a psicóloga destaca que as pessoas se apresentam descrevendo os seus gostos e interesses, além de se exaltarem para atrair o parceiro ideal.
A especialista ainda analisa que quem já predeterminou o que quer encontrar em um potencial parceiro faz mais uma transação do que a consumação de um desejo ou de uma paixão. "No amor você procura uma pessoa que tenha uma posição de pensamento semelhante, que te deixe confortável, que seja amigo e que, acima de tudo, te entenda e ame", afirma.
Ela ainda destaca que não classificaria a hipergamia como algo totalmente negativo, mas considera que sempre que falamos de casal é através da concepção romântica e profunda do vínculo.
“É inevitável estabelecer uma hierarquia nessa busca. Portanto, eu não rotularia isso como ruim. O negativo seria estabelecer objetivos inatingíveis que mantêm o indivíduo num estado de constante desencanto e desconforto ”, conclui o Lic.
Fonte: O Globo
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