A aposentada Dirce Azanha, de 67 anos, morreu após ficar 11 dias esperando para ser transferida de uma unidade de saúde de Praia Grande, no litoral paulista, para realizar uma cirurgia de emergência de biópsia de um tumor. Ela estava internada, desde o último dia 18, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Quietude, e faleceu neste sábado (30).
O G1 acompanhou a busca da família por uma vaga para salvar a vida da idosa, que descobriu o tumor no mediastino, região do tórax, entre os dois pulmões, no dia 6 de maio. Segundo a filha Lilian de Souza, ela sentia fortes dores nas costas e foi submetida a um raio-X e uma tomografia, que apontaram a presença do tumor na região torácica.
Após alguns dias, ela passou mal e teve de ser levada para a unidade do bairro Quietude, onde foi hospitalizada. Conforme explica Lilian, o tumor aumentou nos últimos dias e estava comprimindo o pulmão e o coração, piorando o quadro clínico da idosa, que segundo a Secretaria de Saúde de Praia Grande aguardava uma vaga pela Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde (Cross).
Diante da demora e piora do quadro clínico da paciente, a família entrou com um pedido de liminar na Defensoria Pública para conseguir a transferência, no entanto, ela foi negada na sexta-feira (29), pelo juiz da Vara da Fazenda Pública de Praia Grande, Enoque Cartaxo de Souza.
"Parece lógico também que a transferência da paciente só pode ser realizada em situação que não a coloque em alto risco de contaminação da Covid-19", explica o magistrado na decisão. Ele ainda pediu para que os réus, ou seja, estado e município, sejam ouvidos antes da decisão.
“Infelizmente, não adianta mais. Acabou, minha mãe faleceu. É uma sensação de impotência. Lutei para conseguir um tratamento digno e ela não teve nem a chance de lutar pela vida dela”, afirma a filha, abalada.
Município
Por meio de nota, a Secretaria de Saúde Pública de Praia Grande afirma que lamenta a morte da paciente e ressalta que ela recebeu todos os cuidados possíveis na unidade de Pronto Socorro Quietude, enquanto aguardava uma vaga de leito oncológico, pela Cross, que é de responsabilidade do Estado de São Paulo.
Estado
Também em nota, a Central de Regulação da Baixada Santista esclarece que assumiu o pedido de transferência de Dirce Azanha no dia 29 de maio e iniciou o processo de busca em hospitais de referência para o caso. Porém, na madrugada deste sábado, a central foi notificada do falecimento da paciente.
A Cross é um sistema online que funciona 24 horas por dia e que verifica vagas disponíveis em hospitais do SUS em São Paulo, que possuam recursos específicos, não disponíveis no serviço de origem do atendimento. O sistema identifica os leitos disponíveis e, assim, organiza o sistema e auxilia no encaminhamento do paciente para o local mais próximo de residência e apto a assisti-lo, com avaliação individualizada de cada caso. A disponibilidade de leito não basta, sendo essencial condição clínica adequada, com estabilidade clínica e ausência infecções, por exemplo, para efetivar a transferência com segurança.
Entenda o caso
Desde o dia 18, Dirce Azanha estava hospitalizada devido ao tumor no mediastino. Ela necessitava de uma cirurgia de emergência para fazer um biópsia na massa celular que estava crescendo na região torácica, bem como o encaminhamento para um tratamento oncológico adequado.
A família relatou ao G1 que, devido ao tamanho do tumor, o pulmão e o coração da paciente estavam sendo comprimidos, o que gerava um quadro de insuficiência cardíaca, além da falta de ar. “A saturação dela começou a cair, está parando de se alimentar, com dificuldades para respirar, e por isso precisa da ajuda de aparelhos. Além disso, ela sente muitas dores”, contou a filha na época. Ainda segundo ela, a idosa pedia para que os familiares a tirassem da UPA.
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