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Menina de dois anos ajuda pais com deficiência visual a caminhar e usar o celular em Fortaleza



A post shared by Marlene Mello Cachos (@princesinhaclarinha) on Oct 18, 2019 at 3:17pm PDT

A pequena Ana Clara Mello tem apenas 2 anos mas já entende que os pais, que têm deficiência visual, possuem limitações e até consegue orientá-los nas atividades do cotidiano. Morando em Fortaleza com a família, Clarinha, como é chamada, transforma em brincadeira atividades como guiar os passos dos pais, direcionar o dedo da mãe na tela do celular e até sinalizar objetos caídos pelo chão da casa.

Ana Clara Mello tem perfil em rede social, onde seus pais compartilham como a cearense ajuda o casal nas atividades do cotidiano — Foto: Arquivo Pessoal

Ana Clara Mello tem perfil em rede social, onde seus pais compartilham como a cearense ajuda o casal nas atividades do cotidiano — Foto: Arquivo Pessoal

As ações foram incentivadas e ensinadas pelos pais, mas também adotadas naturalmente pela própria menina, como conta a mãe de Ana Clara, a cabeleireira Marlene Mello, que possui entre 5 e 10% da visão. “Quando ela tinha uns dez meses, eu a arrumei e falei: ‘filha, mostra para o papai como você está linda’ e eu fiquei pensando em como ela iria mostrar. Ela pegou a mão dele e foi mostrando o laço, a roupa, o sapato”. À medida que ia crescendo, a criança também mostrava para o pai o tamanho do cabelo e nascimento dos dentes.

“Ela sabe que eu enxergo um pouco e sabe que o pai dela precisa mais do que eu, então ela segura na mão do pai dela”, conta.

Marlene perdeu parte da visão por conta de uma hidrocefalia, o acúmulo de líquido no cérebro. “Passei dois meses internada, entre a vida e a morte. Consegui colocar a válvula, mas demorou e, por isso, eu perdi a visão”, relata. A mãe de Clarinha consegue ver vultos com cores, mas não tem definição. “Para mexer no celular, eu uso leitor de tela, não consigo ver o rosto da Clarinha com nitidez, são imagens distorcidas”. Já o pai da criança, Alex Mello, nasceu com retinose pigmentar, doença em que a retina é danificada, e enxerga somente vultos.

Pais de Ana Clara, Alex e Marlene Mello namoraram a distância e se conheceram pessoalmente apenas no dia do casamento  — Foto: Arquivo Pessoal

Pais de Ana Clara, Alex e Marlene Mello namoraram a distância e se conheceram pessoalmente apenas no dia do casamento — Foto: Arquivo Pessoal

O casal se conheceu em um bate-papo na internet e namorou por três meses à distância, ela em Fortaleza e ele em São Carlos, município de São Paulo. “Logo depois ele veio me conhecer e já veio para a gente se casar, nós nos conhecemos no dia do casamento”, lembra Marlene.

Conversa durante a gestação

A gravidez não foi planejada, de acordo com os pais. Inicialmente, eles ficaram inseguros e receosos, por acharem que não dariam conta. “Ser pai era um grande sonho do Alex e para mim também, mas as pessoas são muito negativas, eu cresci vendo que gravidez era uma doença. Juntou isso e o medo de não poder ter filhos”.

Mas, durante a gestação, Marlene e Alex começaram a conversar com a bebê ainda na barriga, falando sobre as dificuldades que enfrentariam.

“A gente contava para ela, explicava que nós temos deficiência visual, mas que íamos dar o nosso melhor para cuidar dela e que Deus tinha um propósito de ter enviado ela para as nossas vidas”, revela a mãe.

Quando Clarinha nasceu, o casal ainda permanecia com alguns cuidados. Marlene conta que o processo de aprendizagem dos primeiros passos da menina foi em cima da cama, pelo medo que tinham de ela pegar em tomadas sem eles perceberem. “Quando foi com 11 meses, nós decidimos enfrentar o medo e colocar ela no chão, aí ela começou a dar os primeiros passinhos”. Atualmente, Clarinha é quem guia os passos dos pais. “É um anjo e os nossos olhos, ela é literalmente Deus nas nossas vidas”.

Mensagens de apoio

A vida de Clarinha com os pais já faz sucesso no Instagram, onde 300 mil seguidores acompanham diariamente as vivências e a rotina da família. Ainda na gravidez, Marlene publicava na rede social o crescimento da barriga, o primeiro sapatinho, as roupinhas.

No início, Marlene não falava ao público sobre a deficiência visual do casal, pois tinha medo. “Eu já tinha sofrido preconceito antes”. Quando decidiu contar, as pessoas começaram a se interessar mais, afirma a cabeleireira, mesmo garantindo que ainda há preconceito. Apesar disso, ela comemora as mensagens de apoio que recebem dos seguidores. “A gente consegue ajudar pessoas com depressão, que não sorriam há muito tempo. A Clarinha é muito engraçada. É muito linda a missão que nós temos”, afirma.

Fonte: G1

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