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Morre Hesio Cordeiro, médico que propôs a criação do SUS


 
 

O médico sanitarista e professor Hesio Cordeiro, que propôs a criação de um "sistema universal de saúde" no Brasil e ajudou a fundar o SUS, morreu no domingo (8), aos 78 anos, no Rio de Janeiro.


A luta de Hesio Cordeiro por uma saúde gratuita e universal no Brasil começou durante a ditadura militar. Em 1971, o médico liderou um pequeno grupo de médicos e sanitaristas progressistas e fundou o Instituto de Medicina Social (IMS) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Além de ser o primeiro programa de pesquisa sobre Saúde Pública no país, o IMS formulou as bases para que a Constituição de 1988 criasse o Sistema Único de Saúde (SUS). Entre 1971 e 1978, Hesio trabalhou como consultor da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), agência da Organização Mundial da Saúde (OMS) em quase todos os países da América Latina, sem se desligar do IMS/Uerj. Durante o governo de Tancredo Neves, integrou um grupo de trabalho para ampliação e organização do sistema de saúde do país.

O médico brasileiro e vice-diretor da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, postou nas redes sociais uma homenagem ao colega e afirmou que a morte de Hesio é uma perda para a saúde pública nacional. "Grande perda para a saúde pública brasileira. Descanse em paz, Hesio. A melhor homenagem à sua vida é continuar lutando para fortalecer e aperfeiçoar o SUS" - Jarbas Barbosa, vice-diretor da Opas. Hesio de Albuquerque Cordeiro nasceu em 21 de maio de 1942, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Formou-se em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Uerj, em 1965. Morreu em função de uma doença degenerativa.

Em nota, a Uerj informou estar "consternada" com a morte de Hesio, que foi reitor da universidade nos anos 90.

"Hesio Cordeiro tem sua trajetória entrelaçada à própria história do movimento sanitário do país e dos acontecimentos mais marcantes da saúde, nos últimos 45 anos. Da mesma forma, sua atuação como reitor da Uerj entre 1992 e 1995 constitui um marco, ao promover a capacitação docente e estabelecer as bases para o crescimento da Universidade como instituição dedicada não apenas ao ensino de graduação, mas também à pós-graduação, à extensão e à pesquisa científica", afirmou a Uerj. Fundador do SUS O SUS completou 30 anos em setembro. Ele é considerado até hoje um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo.

Hesio propôs a criação do SUS muito antes, contudo, em 1976, quando escreveu com os colegas José Luís Fiori e Reinaldo Guimarães a carta “A questão democrática na área da saúde”.

Considerado um manifesto da saúde pública, o documento apontava como causa do crescimento de doenças antigas e da mortalidade infantil no Brasil a política de privatização da saúde dos militares, classificada por Hesio como "uma política governamental privatizante, concentradora e anti–popular".

Ao final do documento, os três sanitaristas propunham bases para se criar um Sistema Único de Saúde que deveria ser responsabilidade do Estado. "Transformem os atos médicos lucrativos em um bem social gratuito a disposição de toda a população", - manifesto A questão democrática na área da saúde, de 1976. Em um artigo publicado na Associação Brasileira de Saúde Pública (Abrasco), o colega Reinaldo Guimarães, professor aposentado do IMS/Uerj e vice-presidente da associação, lamentou a morte do sanitarista.

"Perdemos todos, a universidade, os amigos e principalmente a política de saúde no Brasil. Hora de lamentar. E de inspirar-se em seu exemplo”, escreveu Guimarães.

O ex-Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que foi aluno de Hesio na Uerj, também lembrou a importância do trabalho do sanitarista. “Hesio Cordeiro é um dos gigantes da saúde pública brasileira. Foi meu mestre, orientador do meu mestrado e amigo. Trabalhei com ele no Inamps na Nova República, período em que Hesio teve um papel central na estruturação do SUS [...] Sem Hesio não teríamos o SUS e o direito à saúde inscritos na nossa Constituição”, disse Temporão. Hesio Cordeiro também foi diretor da Agência Nacional de Saúde (ANS) de 2007 a 2010 e, em 2015, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).


Fonte: G1

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