Diagnosticado com Covid-19 no dia 25 de abril, o médico anestesiologista Daniel Tanaka, que atua no município de Parintins, no interior do Amazonas, voltou a apresentar os sintomas da doença mesmo após passar pelo período de 15 dias de quarentena. Com o quadro de saúde agravado, o médico está sendo tratado em São Paulo e contou ao G1 que a equipe do Hospital do Coração (HCor) considera o caso como uma "reativação" do novo coronavírus -- quando pacientes considerados recuperados ainda apresentam carga do vírus no organismo.
Tanaka contou que a falta do teste RT-PCR, que busca identificar o material genético do vírus no corpo, no interior do Estado acaba contribuindo para limitação diagnóstica e poderia ser útil para avaliar seu estado de saúde com mais precisão. Até esta quarta-feira (3), mais de 44 mil pessoas já haviam se infectado pelo vírus no Amazonas.
Outra possibilidade levantada pelo médico é que o teste rápido realizado em abril tenha apresentado um falso positivo, hipóteses também considerada pelo infectologista Bernardino Albuquerque, ex-diretor-presidente da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM). Procurado pelo G1, o órgão informou que o médico realizou o exame RT-PCR em março deste ano, mas testou negativo para a doença.
O médico contou que no dia 26 de abril, após cerca de uma semana sentindo sintomas como febre, dor de cabeça, dor de garganta e dores no peito, o teste rápido apontou positivo para Covid-19. Ele relembra que realizou o tratamento em isolamento domiciliar e voltou a trabalhar após os 15 dias de quarentena (período recomendado para que se aguarde o fim dos sintomas). Tanaka denuncia que a falta do exame molecular pode ter contribuído para o agravamento da situação. "A gente não está com disponibilidade logística em Parintins de fazer o exame molecular, o RT-PCR, e a Vigilância Sanitária confirma o caso apenas com o teste rápido. No momento que eu voltei para a minha atividade, não tinha a possibilidade de fazer um PCR pra saber se estava livre ou não do vírus", contou.
Após o período de 15 dias em quarentena, ainda de acordo com Tanaka, ele voltou a realizar o teste rápido, mas ainda não apresentava o anticorpo que mostraria que ele estava imune ao vírus. Porém, o médico relatou que esse anticorpo demora cerca de 30 dias para aparecer no exame. "É incompatível com nossa vida profissional ficar esperando o IgG [anticorpo que demonstra imunidade] aparecer pra que a gente volte para nosso trabalho, ainda mais em tempo de pandemia", disse.
No dia 23 de maio, o médico voltou a ter sintomas, como febre, calafrios e coriza, e um novo teste apontou que ele permanecia sem o anticorpo IgG contra a Covid-19, cerca de um mês após a primeira positivação. Na tomografia, ele apresentou lesões compatíveis com a doença e levantou suspeita que poderia estar reativando o vírus.
"Como eu não tive o IgG, meu sistema imunológico acabou não combatendo de uma maneira tão eficaz a Covid-19, e ela mostrou agora um quadro clínico mais tardio. É isso que a infectologia acha que aconteceu, pode ser o que eles chamam de recrudescência viral, não é considerado reinfecção, porque eu não tive imunidade", explicou. Ao dar entrada no HCor, em São Paulo, na quinta-feira (28), o médico estava com 30% do pulmão acometido. Nessa terça-feira (2), o acometimento já estava entre 35% e 40%.
O infectologista Bernardino Albuquerque explicou que ainda não há conhecimento sobre todo o mecanismo imunológico da Covid-19. "Sabemos que há produção de duas proteínas imunológicas sim. Agora, não sabemos se essa produção determina uma proteção duradoura ou não. Isso a ciência ainda não definiu muito bem", contou.
Fonte: G1
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