Antes relacionadas a adultos e “problemas de gente grande”, a depressão e a ansiedade têm atingido cada vez mais crianças e adolescentes.
De acordo com levantamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), as internações hospitalares de pacientes com idade entre 10 e 14 anos, motivadas por depressão e ansiedade, bateram recorde nos últimos 10 anos e aumentaram 107% no Sistema Único de Saúde (SUS), registrando quase 25 mil casos.
Na faixa etária de 15 a 19 anos, foram mais de 130 mil internações em uma década.
Para especialistas, um dos principais motivos que levam crianças e adolescentes à ansiedade e depressão é a cobrança pela perfeição por parte dos próprios pais.
“A criança do século 21 não precisa apenas aprender, ela deve aliar várias habilidades que demandam mais atividades e mais estresse. Tudo gira em torno de performance. Não basta fazer balé, tem de brilhar nas apresentações de final de ano; não basta fazer futebol, tem de driblar e ser ‘o bom’”, alertou a psiquiatra da Infância e Adolescência Fernanda Mappa.
Outro fator que leva à depressão e ansiedade é a exposição excessiva à tecnologia, afirmam os especialistas.
“Isso é claro nos consultórios. Atendemos crianças com vários sintomas depressivos por falta de limites dos pais. Elas ficam na internet o tempo todo e acabam construindo expectativas irreais, se comparam com as blogueiras da moda, por exemplo, e na vida real acabam se frustrando”, frisou a psicóloga Roberta Vallory.
Para o psiquiatra Jairo Navarro, os pais precisam reatar os laços com os filhos e investir tempo para conhecê-los. “Hoje em dia, os pais não conhecem os filhos, não passam um tempo de qualidade com eles. E isso é fundamental, até para saber se o filho está passando por algum problema”, frisou.
De acordo com o psiquiatra, os principais sinais de depressão e ansiedade em crianças e adolescentes são as mudanças de comportamento, como alterações no rendimento escolar e nas relações sociais. “Só dá para saber se mudou em alguma coisa se os pais conhecem os filhos”, alertou.
Psiquiatra da Infância e Adolescência, Fernanda Mappa diz que cobrança por perfeição leva à ansiedade e depressão (Foto: Leone Iglesias / AT – 22/06/2019)
Sentimento não é frescura
Ansiedade e depressão, muitas vezes, são doenças silenciosas e invisíveis.
De acordo com especialistas, os pais precisam ficar mais atentos às mudanças de comportamento dos filhos, tendo em vista que essas doenças são reais. “Os pais não devem, em momento algum, ficar julgando a criança, criando ainda mais estresse. Ficar falando que a criança não tem nada, que é frescura. Os pais devem acolher os filhos nesses momentos”, orientou.
Para a psiquiatra da Infância e Adolescência Fernanda Mappa, os pais devem enxergar a criança e perceber de forma precoce as alterações sutis de comportamento, procurando a ajuda de especialistas no assunto.
“Os pais devem acolher a criança e suas queixas físicas, se existirem, e evitar frases do tipo: ‘é frescura’, ‘na minha época, resolvia com chinelo’”, ilustrou.
Para a psicóloga Roberta Vallory, ainda existe muita negligência emocional dos pais. “Às vezes, os pais dão presentes, gastam dinheiro, mas não estão disponíveis emocionalmente para os seus filhos. Isso piora o quadro”, afirmou.
Sinais de depressão
Em crianças
Em crianças, os sinais são diferentes em relação aos sintomas apresentados por adultos, podendo se manifestar de formas sutis.
Queda de rendimento escolar e faltas ou dificuldade de ficar até o final das aulas, estão entre os sinais.
Irritabilidade e falta de atenção.
Alterações de sono são comuns, com presença de mais medos.
Redução do apetite, perda de peso.
Isolamento social e choro fácil.
Adolescentes e jovens
Em adolescentes e jovens, os sinais podem ser mais semelhantes aos sintomas em adultos:
Isolamento e mudanças bruscas de comportamento e hábitos.
Perda de interesse por atividades de que gostava.
Descuido com a aparência.
Piora do estado desempenho na escola ou no trabalho.
Alterações no sono ou no apetite.
Como os pais podem ajudar
Mostre interesse na vida de seu filho. Procure saber quais são os passatempos que ele gosta, quais músicas e filmes acompanha, os sites que visita na internet.
Limite o tempo de exposição à internet e às redes sociais.
Proponha atividades ao ar livre, resgate a brincadeira, o lúdico.
Crie o hábito de conversar sobre os problemas.
Esteja disposto a ouvir.
Muitos pensamentos negativos podem ser desafiados de forma empática e uma visão a partir de outra perspectiva.
técnicas de relaxamento e visualização (por exemplo, ao se praticar o relaxamento, imaginando estar em um lugar agradável) podem ser úteis para o sono e a ansiedade, provocando situações que acalmem.
Motive um foco nos pontos fortes, em vez das fraquezas.
Ajude seu filho a desenvolver habilidades para resolver problemas. Determine que pequenos passos alcançáveis serão importantes.
Sugira que o seu filho comece a listar as suas dificuldades, priorizá-las e concentrar os esforços em uma questão, com um pequeno passo de cada vez.
Ensaie comportamentos e habilidades sociais. As reações a determinadas situações ou pessoas, muitas vezes, parecem desencadear ou manter o mau humor.
Incentive seu filho a prat icar pensamentos que melhorem o humor.
Fonte: Tribuna Online
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