O número de casos suspeitos de intoxicação por drogas K na cidade de São Paulo dobrou no último mês. De janeiro a abril deste ano, a Secretaria Municipal da Saúde havia notificado 216 casos de intoxicação exógena por canabinóide sintético, o nome técnico da droga. Em maio, as notificações, que foram registradas tanto na rede pública quanto na privada, saltaram para 411.
O número de notificações é três vezes maior do que o computado em todo o ano passado, 98 casos. Até abril deste ano, os governos não falavam abertamente sobre o tema e, até agora, não há um teste que confirme que a pessoa ingeriu as drogas K (leia mais abaixo). Os dados podem indicar tanto um crescimento real do consumo dessa droga, como o aumento da atenção do estado em orientar as equipes a notificar esses casos, diz a Prefeitura.
As chamadas drogas K surgiram em laboratórios no início dos anos 2000, têm como base os canabinoides sintéticos, mas o termo maconha sintética é errado. A explicação é complexa, mas em suma quer dizer que o canabinoide feito em laboratório se liga ao mesmo receptor do cérebro que a maconha comum, mas em uma potência até 100 vezes maior. O governo de São Paulo diz que os efeitos da droga podem ser piores do que o crack.
“Estamos acompanhando de forma bastante atenta”, diz Wagner Laguna, assessor técnico da área de Saúde Mental da Secretaria Municipal da Saúde. Ele integra a Coordenadoria de Atenção Básica (CAB), grupo formado por uma equipe de técnicos de áreas que envolvem a saúde mental.
Laguna cita que iniciativas recentes quanto as "drogas emergentes" vão de ações de assistência - os atendimentos feitos nos equipamentos voltados ao cuidado de saúde mental - ao aprimoramento de notificações dos dispositivos de vigilância epidemiológica. O avanço dos sintéticos vem sendo discutido e estudado pelo governo municipal, garante a prefeitura. Já a Secretaria de Saúde do Estado informou que 13,9% dos atendimentos no Hub de Cuidados em Crack e outras Drogas - de um total de 3.454 atendimentos no total - foram voltados aos usuários de canabinoides sintéticos. Os números correspondem ao período entre 6 de abril e 14 de junho. Não há números anteriores para efeito de comparação.
Uma das preocupações, segundo o promotor Tiago Dutra, do Grupo de Ação Especial Contra o Crime Original, é que o sistema público de saúde seja futuramente sobrecarregado por vítimas e dependentes de drogas sintéticas. "Não tem como fechar os olhos" Casos de intoxicação são chamados de suspeitos porque, no momento, só é possível avaliar os efeitos clínicos devastadores da droga. Ou seja, exames laboratoriais ainda são um desafio. Órgãos de saúde, segundo apurado pelo g1, estão aprimorando a análise laboratorial através de um banco de amostra de dados. “Não é só uma substância que está presente na droga”, disse Laguna. Por se tratar de uma droga sintética, a molécula principal vem sendo modificada nos laboratórios clandestinos. A droga também é misturada com outras substâncias, incluindo o fentanil, opiode vendido em farmácias com forte potencial de dependência. Com os governos cientes da crise, a análise laboratorial está sendo desenvolvida, segundo Wagner, com o Ministério da Saúde. O Instituto de Criminalística de São Paulo também garante que vem desenvolvendo métodos que identifiquem se uma morte foi causada ou não pela ingestão das drogas k.
“Não tem como fechar os olhos”, disse Laguna ao g1 mencionando especialmente as ações de assistência. Ele reforçou que o momento atual é de construção de base epidemiológica. E destacou que a vigilância vem sendo reforçada para esses casos.
A pasta recomenda que usuários procurem um equipamento de pronto-atendimento, como um pronto-socorro de um hospital, ou uma UPA. As CAPES estão de portas abertas. “E não se limitam ao primeiro atendimento. Os principais equipamentos voltados ao cuidado de saúde mental, à questão de álcool e outras drogas, também estão recebendo orientações quanto as ações de assistência”. Algo que é muito importante, segundo Wagner, é o aprimoramento das notificações de todos os dispositivos de vigilância epidemiológica frente ao problema. Até o fim de junho, a prefeitura deve soltar uma nota técnina atualizada. “Mais abrangente, com novas orientações”. Em abril, a prefeitura publicou uma nota técnica para assistência a crianças e adolescentes por intoxicações por canabinoides sintéticos. A Secretaria destacou o Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo (CCI-SP), instalado no Hospital Municipal (HM) Arthur Ribeiro de Saboya, para atender os usuários de drogas K.
O estado informa que “os profissionais que atuam no Hub de Cuidados em Crack e outras Drogas são capacitados e orientados diariamente para acolher, triar e oferecer o tratamento mais adequado às pessoas que apresentam quadros graves de dependência química, sejam usuários de drogas K ou de outros tipos de drogas”.
Aproximadamente 20 kg de canabinóides sintéticos foram apreendidos até junho deste ano pelo Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc). Muitos nomes, mesma droga A confusão de nomes, especialmente "maconha sintética", ainda é motivo de preocupação entre ativistas pela legalização da maconha e associações em defesa da cannabis medicinal. A Associação Brasileira de Medicina Canábica foi uma das que mais criticou.
“Quando o problema surgiu, era de fato chamada de 'maconha sintética'. Nas ruas as pessoas reconheciam por esse nome. Agora é um outro momento”, ressaltou Laguna.
É um erro chamar drogas de maconha sintética, assumem especialistas e autoridades que acompanham de perto. A substância não tem nenhuma similaridade com a maconha.
Fonte: G1
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