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O Dia do Médico – Artigo

O Dia dos Médicos é comemorado no dia 18 de outubro em homenagem a São Lucas, que foi o terceiro dos quatro evangelistas do Novo Testamento. Era médico, razão pela qual decidiu-se homenagear os profissionais no mesmo dia. Falar do ofício de médico no Brasil não é nada fácil, particularmente nos difíceis dias de hoje em que a categoria enfrenta tantas dificuldades e tantos desafios.

O Brasil, com sua dimensão continental e as grandes diferenças, especificidades e desigualdade regionais necessita que a saúde tenha uma abordagem complexa e criativa, impondo aos profissionais da saúde em geral, e aos médicos em particular, uma carga de responsabilidades e de trabalho extenuantes, muitas vezes frustrantes e em outras, fatais.

Quando inserimos na Constituição Federal de 1988 a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), geramos uma radical transformação do que tínhamos em saúde no País. O SUS é universal e descentralizado e se antes do SUS a saúde era “ausência de doença” focada no indivíduo, após o SUS passa a ser focado na comunidade, e passa a estar relacionado com a qualidade de vida da população, englobando um conjunto de bens sociais como a qualidade da alimentação, moradia, a renda e as condições de trabalho, a educação, o meio ambiente, o lazer, entre outros. Nascia naquele momento o maior sistema de saúde do mundo.

Os desafios para a criação, implantação, desenvolvimento e manutenção de um sistema de saúde dessa magnitude são gigantescos e exigem a participação e o comprometimento de toda a sociedade. Infelizmente o que assistimos desde então é o descompromisso de governo após governo em criar fontes efetivas, eficientes e suficientes para o financiamento do SUS. O crônico subfinanciamento do sistema acentua desigualdades regionais tanto no que se refere à infraestrutura quanto à alocação e manutenção de profissionais.

Os médicos são os principais profissionais afetados pelo descompromisso do estado brasileiro para com a saúde de nosso povo, gerando um sofrimento que se reflete dramaticamente nos alarmantes índices de adoecimento e na epidemia de suicídios que aumenta a cada ano entre nossos colegas.

A PEC 95 que limita, desde 2018, os gastos públicos, desde então, já retirou da saúde mais de R$ 10 bilhões, agravando ainda mais o subfinanciamento do sistema sem tirar um único centavo do que se gasta para pagar para meia dúzia de banqueiros, os indecentes juros da dívida pública.

As consequências desse financismo batem às nossas portas com o recrudescimento de doenças que estavam sob controle, como a tuberculose, a sífilis e tantas outras. Também nos reapresenta a tantas outras que eram tidas como erradicadas como o sarampo, a poliomielite, a febre amarela…

Se não bastasse isso, a redação final do Projeto de Lei proveniente da Medida Provisória 890/2019, que institui o programa Médicos pelo Brasil, documento finalizado e encaminhado para votação na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, descaracterizou a proposta do Ministério da Saúde e permitiu a incorporação ao Médicos pelo Brasil, de intercambistas que foram desligados do Mais Médicos sem que esses precisem, nesse novo momento, aplicar o Revalida. Esta emenda é equivocada e discriminatória já que por certo irá impor às comunidades mais vulneráveis a participação de “quase médicos”.

Aos nossos médicos e médicas do Brasil e que atuam de maneira regular, todo nosso orgulho, admiração e respeito. A situação da saúde no Brasil só não se agrava mais ainda porque nossa categoria se submete a jornadas extenuantes, salários defasados e muitas vezes aviltantes. Em pleno século XXI, apesar de muitas vezes disporem de condições de trabalho iguais ou piores que as que enfrentavam os médicos do século XIX, não abandonam a trincheira, não arredam o pé de cumprirem a sua missão que é salvar vidas, minimizar sofrimentos e confortar o paciente.

Parabéns a todas as médicas e médicos por nosso dia. Nós merecemos.

Casemiro dos Reis Júnior é presidente da Federação Médica Brasileira.

Fonte: Correio

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