Um médico de 51 anos foi levado a uma delegacia de Contagem, na Grande BH, após a morte de um paciente de 72 anos nessa terça-feira. O profissional é suspeito de ter recusado atendimento a um idoso na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Ressaca. À Polícia Militar (PM), ele alegou que o local não tinha condições de receber pacientes em estado grave e que o homem precisava ser transferido.
O caso ocorreu pouco antes das 22h. Enfermeiros de uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) contaram à PM que socorreram o paciente em casa, no Bairro Novo Progresso, com um quadro de insuficiência respiratória em estado crítico. Eles informaram a condição dele à central do Samu e foram orientados a levá-lo a unidade de saúde mais próxima. Chegando à UPA Ressaca, eles passaram pelo acolhimento e o idoso foi classificado como grave. Mas, os socorristas afirmaram aos policiais que o médico plantonista não quis prestar atendimento e nem sequer levantou da cadeira para olhar o paciente. Ele teria se limitado a dizer que a UPA estava cheia e sem leitos. A equipe acionou a central novamente para acionar uma Unidade de Suporte Avançado (USA), que conta com um médico responsável. Ele tentou falar com o colega da UPA ao telefone, mas ele não quis o diálogo, segundo os socorristas. A nova equipe saiu do Bairro Petrolândia e chegou ao Ressaca uma hora depois. O médico constatou a insuficiência do paciente e avaliou que o plantonista tinha que prestar socorro mesmo se ele precisasse de transferência. O estado de saúde do idoso piorou e eles precisaram fazer uma reanimação cardiopulmonar. De acordo com a Polícia Militar, eles conseguiram uma vaga no Hospital Municipal de Contagem (HMC), mas o paciente morreu antes de dar entrada. Ainda de acordo com a polícia, consta no boletim de ocorrência que os enfermeiros disseram ter visto uma maca de urgência em um dos boxes que devia ser usada em casos específicos. A nora do idoso acompanhou todo o processo.
Versão do médico
Conforme a PM, o plantonista da UPA disse que entrou às 19h40 e viu que a sala de urgência não tinha como receber mais pacientes. A equipe do dia já teria avisado ao Corpo de Bombeiros e o Samu que não poderia atender pacientes graves pois não havia macas e nem balão de oxigênio. Na versão dele, quando o Samu chegou com o idoso, ele falou que não era possível interná-lo e continuou atendendo outros pacientes, enquanto um outro colega prescreveu uma medicação ao idoso. O médico diz, ainda, que orientou os socorristas a ligar para o Samu e levá-lo a outra unidade hospitalar.
Os envolvidos foram levados à Delegacia de Plantão de Contagem. Às 9h55 desta quarta-feira, a Polícia Civil informou que o suspeito e as testemunhas ainda estavam sendo ouvidas pelo delegado na unidade.
Prefeitura também apura o caso
Em entrevista coletiva no fim da manhã desta quarta-feira, o secretário Municipal de Saúde de Contagem, Cléber de Faria Silva, disse que a UPA Ressaca passou por uma reforma há pouco tempo e que está em condições de atender os pacientes. “A rede funciona como um todo. É necessário às vezes levar um paciente para algum equipamento, estabilizá-lo, e depois transportá-lo para um outro, por exemplo, nosso hospital”, explica o secretário. “As primeiras informações são de que a UPA estava dentro da normalidade, com um número de pacientes dentro do que é possível ser atendido. E também a urgência é porta aberta, o paciente chegou e tem que ser atendido, nós não abrimos mão disso. E isso é premissa na urgência”, afirmou. Ainda segundo ele, o médico detido trabalha na UPA há muitos anos. O caso também será investigado pela prefeitura. “Nós vamos apurar tudo com responsabilidade, respeitando todos os lados, inclusive o do profissional. Mas nós não vamos abrir mão de tomar as providências necessárias e de seguir a rotina que nós temos, que é de salvar vidas na nossa urgência. Esse é um caso isolado e que vamos tratar com a seriedade que merece”, pontou Cléber de Faria Silva.
Fonte: Estado de Minas
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