top of page
Foto do escritorPortal Saúde Agora

Pacientes de asma grave brigam para planos de saúde pagarem por terapia de anticorpos


 
 

Os pacientes de asma grave no Brasil estão em campanha para que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) obrigue planos de saúde a pagarem por terapias de anticorpos monoclonais. Esses medicamentos de classe imunobiológica, que entraram no mercado nos últimos dez anos, têm conseguido reduzir o número de internações dos asmáticos com subtipos mais graves da doença, que se arriscam mais agora por serem grupo de risco para a Covid-19.


Além dos asmáticos e familiares, médicos das áreas de pneumologia e alergologia estão tentando convencer a ANS a reverter uma recomendação de que dois dos produtos em questão sejam disponibilizados pelos planos privados. A ANS tem uma consulta pública aberta até sábado (21) para que a sociedade civil opine sobre a decisão preliminar de vetar o acesso aos medicamentos mepolizumabe e benralizumabe.


Os produtos em questão são moléculas do sistema imune com estrutura sintetizada em laboratório com a intenção de bloquear de forma mais precisa os processos inflamatórios que caracterizam a doença.


A ANS se pronunciou favoravelmente a um terceiro desses medicamentos, o omalizumabe, indicado para a asma grave de origem alérgica e teoricamente são disponível até no SUS. Cerca de 70% dos pacientes com a condição grave da doença, porém, possuem a variante não alérgica, para a qual os dois imunobiológicos indicados para veto na ANS são os mais indicados.


O gestor financeiro Bruno Eduardo Francisco, de Joinville (SC), é um dos pacientes brasileiros que estão conseguindo se tratar com anticorpos monoclonais, mas teve que entrar na justiça para ter acesso ao medicamento. Em entrevista ao GLOBO, o catarinense contou como é a rotina de um portador de asma grave eosinofílica, uma daquelas na indicação do tratamento.


— No ano passado eu tive duas internações, e neste ano já passei por cinco. Em uma das crises que eu tive, acabei pegando Covid-19 no hospital. Foi tenso — contou.


O coronavírus em si levou Bruno a uma nova internação, e a doença causou preocupação, apesar de não ter culminado em intunbação.


Há dois meses, o catarinense começou a ser tratado com um novo anticorpo monoclonal e diz que espera conseguir controlar melhor suas crises de asma, apesar de o tratamento ainda não ter atingido aindao período mínimo esperado para ter efeito.


— O tratamento convencional é com alta dose de corticoides, tem vários efeitos colaterais, e mesmo usando as melhores 'bombinhas' eu continuei passando por interações e crises diárias — conta.


O estado de Santa Catarina, após decisão judicial, está pagando pelo tratamento de Bruno, que envolve a aquisição quinzenal de duas bulas do medicamento, que custa R$ 9.000.


Custo-benefício


O alto custo da terapia é que foi considerado pela a ANS na decisam de desrecomendar um dos medicamentos. O parecer da agência lista literatura científica indicando que o tratamento resultou no ganho de 12 anos de vida saudável por paciente, a um custo de R$ 510 mil.


Segundo associações de pacientes que defendem a incorporação do medicamento, o peso econômico da incidência da asma grave, que tem cerca de 600 mil portadores no país, justifica o custo.


— Se a gente somar o impacto da asma grave em internação hospitalar, internaçaõ em CTI, falta ao trabalho, absenteísmo escolar e custos da área de saúde, a conta se equilibra — diz Adalberto Rubin, médico da Santa Casa de Porto Alegre e membro da comissão de asma da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).


— Já tem dados internacionais e nacionais que mostram isso — afirma.


Na opinião do pneumologista, a análise preliminar da ANS levou em conta uma incidência exagerada da asma grave no Brasil.


Segundo a ASBAG (Associação Brasileira de Asma Grave), que representa pacientes e familiares, apesar de a asma como um todo ter 10% de incidência no país, a asma grave tem de 0,3% a 0,5%, o que diminuiria o custo bruto da inclusão dos anticorpos monoclonais para a doença no rol de medicamentos da ANS.


— Os planos de saúde acham que vai ter demanda muito grande e gastos altos, mas eu acredito que o que isso vai trazer é um controle melhor para o sistema, porque hoje tem muitos pacientes sendo internados em UTI gerando gastos significativos — diz Raissa Cipriano, presidente da ASBAG e mãe de uma paciente.


Critérios científicos


Em comunicado ao GLOBO, a ANS afirmou que os técnicos da agência vão levar em consideração os comentários recebidos durante o processo de audiência pública, e reiteram que a decisão final ainda não foi tomada. Caso a recomendação de veto seja revertida, a instituição estima que regra de aceso aos novos medicamentos passaria a valer a partir de março.


"A reguladora ressalta que o processo de incorporação no rol obedece a critérios científicos comprovados de segurança, eficiência e efetividade, e os procedimentos incorporados são aqueles nos quais os ganhos coletivos e os resultados clínicos são mais relevantes para os pacientes", disse a agência.


Segundo a ANS a decisão final levará em conta "viabilidade, alinhamento com a política nacional de saúde, capacidade instalada/disponibilidade de rede prestadora e disponibilidade de recursos".


O GLOBO entrou em contato com a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) pedindo posicionamento do setor sobre o assunto, mas não recebeu resposta até a publicação desta reportagem.


Fonte: O Globo

5 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page