Uma nova pesquisa indica que os profissionais que atuam na linha de frente no setor da saúde — particularmente os de origem negra, asiática e de outras minorias— enfrentam um risco maior de testar positivo para Covid-19 do que os indivíduos brancos e os da comunidade em geral.
Os pesquisadores apontam o "racismo sistêmico" associado às desigualdades no acesso aos equipamentos de proteção (EPI) como explicações para essa diferença entre as minorias e os demais grupos. O estudo considerou diferentes funções dentro do setor de saúde, incluindo desde recepcionistas, porteiros e faxineiros de hospitais.
O estudo, publicado no periódico "The Lancet Public Health", foi realizado no auge da pandemia de Covid-19 no Reino Unido e também nos Estados Unidos e foi conduzido por uma equipe liderada por pesquisadores do Hospital Geral de Massachusetts (MGH).
A pesquisa "Risk of COVID-19 among front-line health-care workers and the general community: a prospective cohort stud" analisou os dados de 2.035.395 indivíduos da comunidade e 99.795 profissionais de saúde da linha de frente.
Eles utilizaram voluntariamente o aplicativo "Covid Symptom Study", desenvolvido com contribuições científicas da MGH e do Kings College London. Dentre os usuários, 5.545 relataram ter testado positivo para Covid-19 entre 24 de março e 23 de abril.
De acordo com o estudo, os profissionais de saúde da linha de frente têm um risco pelo menos três vezes maior de pegar Covid-19, levando em conta a diferença na frequência de testes entre eles e a comunidade em geral. Profissionais de saúde negros, asiáticos e de outras minorias étnicas somam, ainda, um risco quase duas vezes maior em comparação aos trabalhadores de saúde brancos e em geral na linha de frente. Falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) Os trabalhadores da linha de frente que relataram disponibilidade inadequada de equipamento de proteção individual (EPI), como máscaras, luvas e aventais, tiveram um risco especialmente elevado. A disponibilidade adequada de EPI, no entanto, não reduz completamente o risco entre os profissionais que cuidam de pacientes com a Covid-19.
"Embora esteja claro que os profissionais de saúde na linha de frente da luta contra o Covid-19 têm um risco aumentado de infecção, nosso país continua enfrentando uma escassez irritante de EPI", disse o autor Andrew T. Chan, chefe da Unidade de Epidemiologia Clínica e Translacional da MGH e diretor de Epidemiologia do Câncer no MGH Cancer Center. "Nossos resultados enfatizam a importância de fornecer acesso adequado aos EPI e também sugerem que o racismo sistêmico associado às desigualdades no acesso aos EPI provavelmente contribui para o risco desproporcional de infecção entre os trabalhadores minoritários da área de saúde". Os pesquisadores dizem que o estudo mostra não apenas a importância de disponibilidade e uso adequados de EPI, mas também a necessidade crucial de estratégias adicionais para proteger os profissionais de saúde, como garantir a correta aplicação e remoção de EPI e evitar a reutilização, associada a um risco aumentado. "Este estudo demonstra como as duas principais crises que os EUA enfrentam — a pandemia do Covid-19 e o racismo sistêmico— estão inextrincavelmente ligadas e precisam de atenção imediata", acrescentou o Dr. Chan.
Fonte: G1
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