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Transplantados “herdam” memórias e personalidades de doadores? Entenda



Pesquisadores do Hospital Universitário em Jidá, na Arábia Saudita, estudam se é possível uma pessoa transplantada “herdar” as memórias e personalidade do seu doador de órgão.


A hipótese surgiu após os cientistas se depararem com relatos de mudanças das emoções dos receptores, bem como nos gosto por determinados alimentos e até mesmo novos medos, compatíveis com os dos doadores. Esse fenômeno é mais comum em receptores de coração, mas já foi visto também em pessoas que receberam rins, pulmões e até mesmo rosto.


“O campo do transplante de órgãos, particularmente o transplante cardíaco, trouxe à tona fenômenos interessantes que desafiam as concepções tradicionais de memória, identidade e consciência”, contam os pesquisadores em um artigo científico publicado em abril deste ano no Cureus Journal of Medicine Science.

Transplantados com novos gostos


Estudos indicam que os receptores de transplante de coração podem demonstrar preferências, emoções e memórias semelhantes às dos doadores, sugerindo uma forma de armazenamento de memória dentro do órgão transplantado.


Entre os casos apontados, está o de um menino de 9 anos que recebeu o coração de uma garota de 3 anos que se afogou na piscina de casa. Embora o menino não tivesse conhecimento sobre a origem do novo coração, a mãe contou que ele passou a ter medo de água.


Em outro caso, uma mulher de 29 anos recebeu um transplante de coração de um homem vegetariano de 19 anos e passou a expressar aversão à carne após a cirurgia. Antes do procedimento, ela era uma consumidora frequente de fast food.


Também foi relatado que uma mulher de 48 anos desenvolveu gosto por pimentões verdes e nuggets de frango, alimentos que não gostava antes. Algum tempo depois, ela descobriu que pedaços de frango frito não consumidos foram encontrados na jaqueta do jovem doador quando ele foi morto.


A principal hipótese dos pesquisadores da Arábia Saudita é de que o coração e o cérebro estão intrinsecamente ligados, uma vez que o coração compartilha neurônios e células semelhantes ao cérebro. Assim, o transplante cardíaco pode envolver a transferência de traços de personalidade e memórias do doador para o receptor, desafiando visões convencionais de memória e identidade.


Além disso, a rede neural do coração, frequentemente chamada de “cérebro do coração”, se comunica bidirecionalmente com o cérebro e outros órgãos, apoiando o conceito de “conexão coração-cérebro” e seu papel na memória e na personalidade.


Hipóteses


No entanto, essa teoria ainda é uma hipótese. Pesquisadores da Universidade McGill, no Canadá, lembram que os medicamentos imunossupressores tomados pelos receptores de órgãos podem causar aumento do apetite, o que pode mudar a perspectiva dos pacientes sobre a comida.


Outras pesquisas sugerem que o estresse que precede a cirurgia de transplante pode fazer com que os receptores mudem suas perspectivas sobre determinados aspectos de vida, como relacionamentos. Há também o fato de que muitas vezes os pacientes vão para a cirurgia preocupados em herdar os traços de personalidade do doador, o que, eventualmente, pode levar a mudanças comportamentais.


Os pesquisadores do Hospital Universitário em Jidá esclarecem que mais pesquisas são necessárias para entender a complexidade de uma possível transferência de memória, neuroplasticidade e integração de órgãos, oferecendo insights tanto sobre transplante de órgãos quanto sobre aspectos mais amplos da neurociência e identidade humana.


“Entender essas complexidades é promissor para melhorar o atendimento ao paciente em transplante de órgãos e aprofunda nossa compreensão de aspectos fundamentais da experiência e existência humanas”, afirmam.


Fonte: Metrópoles

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