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Trump x Ciência: os embates incomuns entre o presidente dos EUA e especialistas



Presidentes que buscam a reeleição costumam confrontar seus rivais políticos. Já o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem optado por, em vez disso, confrontar a ciência.


Dois sinais claros dessa atitude desafiadora foram expressos na última semana, a menos de 50 dias da eleição de 3 de novembro.

Na quarta-feira (16), Trump contradisse publicamente o diretor dos Centros de Controle de Doenças (CDC) — que havia descartado que uma vacina contra o coronavírus pudesse estar amplamente disponível antes de meados de 2021 e disse que o uso de máscaras pode ser mais eficaz em prevenir infecções do que uma eventual vacina.

"Ele cometeu um erro", disse o presidente americano sobre as duas considerações do doutor Robert Redfield.

O presidente insistiu, em uma coletiva de imprensa, que uma vacina contra a covid-19 poderia ser anunciada em outubro ou "um pouco mais tarde" e estaria disponível ao público "imediatamente".

Poucos dias antes, Trump se recusou a admitir que os grandes incêndios na costa oeste do país estão ligados às mudanças climáticas, como afirmam vários cientistas.

"Não acho que a ciência saiba" , disse o presidente durante uma visita à Califórnia na segunda-feira (14), sugerindo que em breve o clima começaria a esfriar. Esses comentários afrontosos em relação ao conhecimento científico são considerados incomuns até mesmo para um presidente como Trump, que tem um longo histórico de discordância com especialistas em assuntos como o coronavírus ou as mudanças climáticas.

"É um passo além da sua linha normal, e sua linha normal já é muito extrema", diz W. Henry Lambright, professor de Ciência Política da Universidade de Syracuse.

"É algo extremamente raro, não me lembro de um presidente que tenha feito isso nos últimos anos", afirma Lambright, que pesquisa a relação entre governos e ciência há anos. A questão agora é quais consequências essa posição inédita pode ter. A eleição e depois Com quase 200 mil mortes por covid-19, os Estados Unidos são o país do mundo mais atingido pela pandemia, fato que se tornou um assunto decisivo para as eleições de novembro. Embora Trump demonstre apostar tudo em uma vacina que possa ser disponibilizada o mais rápido possível, a oposição democrata o acusa de politizar a questão e de ter falhado no combate ao coronavírus — inicialmente minimizando-o.

"Confio em vacinas. Confio nos cientistas. Mas não confio em Donald Trump", disse Joe Biden, rival e candidato democrata à presidência. "E, neste momento, o povo americano tampouco pode (confiar)." Biden também criticou Trump na segunda-feira (14) por suas posições sobre o aquecimento global, chamando-o de "piromaníaco climático".

O presidente, que ao longo da sua gestão cortou diversas regulamentações ambientais, atribuiu os incêndios na Califórnia ao manejo florestal falho, embora grande parte das florestas naquele Estado sejam controladas pelo governo federal.

Assim, o tema das mudanças climáticas também entrou na reta final da campanha eleitoral. As pesquisas sugerem que as políticas ambientais e a pandemia preocupam a maioria dos americanos, mas as opiniões variam amplamente, dependendo da posição partidária. Por exemplo, menos de um terço dos americanos (31%) confia nas afirmações de Trump sobre o coronavírus, enquanto a maioria (55%) confia no CDC, apontou uma pesquisa da emissora de TV NBC News do mês passado.

No entanto, entre os republicanos, o nível de confiança nos comentários do presidente mais do que dobra: 69%.

Sobre as mudanças climáticas, uma pesquisa do Pew Research Center de outubro indicou que dois terços dos americanos (67%) acreditavam que o governo não estava fazendo o suficiente para reduzir seus efeitos.

Mas enquanto 71% dos democratas consideram as políticas de mudança climática desejáveis, dois terços dos republicanos (65%) acreditam que tais políticas não fazem diferença ou fazem mais mal do que bem ao meio ambiente. Assim, o impacto eleitoral que seus ataques com a ciência podem ter é incerto — ainda mais considerando que Trump aparece vários pontos atrás de Biden em diferentes pesquisas de intenção de voto.

"Não vejo como isso pode ajudá-lo, (mas) com sua forte base de apoiadores, nada parece prejudicá-lo", analisa Robert Erikson, professor de Ciência Política na Universidade de Columbia e especialista em opinião pública e eleições, em entrevista à BBC News Mundo.

Em sua opinião, Trump parece estar apelando "para aquela parte de sua base que é cética em relação à ciência, mas é claro que as consequências de longo prazo disso podem ser desastrosas".

Lambright, por sua vez, também alerta que o atual presidente pode ter aberto um precedente para futuros governos.

"Os sucessores de Trump podem não ser tão radicais quanto ele", diz ele, "mas serão menos relutantes em desafiar os cientistas quando isso estiver de acordo com suas posições políticas".


Fonte: G1

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