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Técnica triplica vida útil de fígado humano

Desde 1954, quando o Nobel de Medicina norte-americano Joseph Murray realizou o primeiro transplante de órgão — um rim —, o procedimento já salvou incontáveis vidas, e, com o avanço nas técnicas, a única opção curativa para casos de falência renal e hepática, por exemplo, tem um alto índice de sucesso. Contudo, a rapidez da deterioração dos tecidos impede que mais pacientes sejam beneficiados, porque os médicos precisam lutar contra o tempo, especialmente quando é necessário transportar o material para longas distâncias. Por isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, para cada pessoa que necessita de um órgão, quatro são jogados no lixo.Continua depois da publicidade

Agora, pela primeira vez, uma equipe do Hospital Geral de Massachusetts e da Faculdade de Medicina de Harvard, ambos nos Estados Unidos, conseguiu preservar fígados humanos em temperaturas abaixo de zero, triplicando a vida útil dos órgãos, comparado aos métodos atuais. Hoje, o tempo máximo de sobrevivência fora do corpo são nove horas. Com a nova técnica, o fígado manteve-se viável por 27 horas. “A preservação de órgãos e tecidos foi identificada como um dos principais desafios da biomedicina hoje. Aumentar a vida útil dos órgãos pode render dividendos tanto para os transplantes quanto para a pesquisa básica”, diz um editorial da Nature Biotechnology, revista onde a pesquisa foi publicada on-line, ontem.

A tecnologia disponível hoje só permite que os órgãos sejam mantidos no gelo, numa temperatura entre 4ºC e 8ºC. Níveis abaixo de zero, embora evitem o apodrecimento, são inviáveis, porque danificam os tecidos, impedindo o transplante. Em 2014, pesquisadores do Centro de Engenharia na Medicina do Hospital Geral de Massachusetts/Harvard demonstraram que era possível triplicar a duração do fígado de ratos supercongelando os órgãos a -6ºC e estocando-os sem gelo. A água pode ser mantida em estado líquido abaixo do ponto de congelamento; técnica chamada de supercongelamento.

Mas, apesar do sucesso do estudo, não foi possível transferir a tecnologia para humanos. “Com o supercongelamento, à medida que o volume aumenta, torna-se exponencialmente mais difícil prevenir a formação de gelo a temperaturas abaixo de zero. Então, muitos especialistas falaram, na época, ‘bem, é algo incrível em ratos pequenos, mas não vai funcionar em órgãos humanos’”, disse, em uma coletiva de imprensa, Reiner J. de Vries, um dos responsáveis pelo desenvolvimento da tecnologia. Além disso, para a preservação ser bem-sucedida, o fígado precisa ser tratado com substâncias que o protegem do frio, o que também é mais complicado de se fazer com órgãos grandes. “Agora, combinando tecnologias, conseguimos sucesso com fígados humanos, que são 200 vezes maiores que os de camundongos.”

Os cientistas explicam que, antes do supercongelamento, os fígados foram preparados com um “coquetel” injetado por uma máquina de perfusão — técnica que fornece um suprimento de sangue artificial para o órgão, enquanto está fora do corpo. “Substituir o sangue artificial por nosso coquetel de preservação permitiu que o fígado recebesse a substância de forma homogênea, mesmo sendo um órgão grande. Ao mesmo tempo, nosso grupo descobriu a importância de eliminar interfaces ar-água para estabilizar o estado de supercongelamento. Esse conjunto de forças resultou no sucesso do supercongelamento de órgãos humanos a -4ºC, sem formação de gelo”, explicou, na coletiva de imprensa, Korkut Uygun, um dos responsáveis pela pesquisa. Antes de ser transplantado, o órgão é aquecido, novamente com auxílio da máquina de perfusão. “O tempo extra pode fazer a diferença entre o sucesso e fracasso de um transplante”, observou Shannon N. Tessier, que também desenvolveu a tecnologia. “Muitas vezes, quando um órgão fica disponível, pode não haver um receptor compatível por perto. Então, quando você acrescenta um tempo extra, isso significa que você pode procurar por distâncias maiores, o que significa que tem uma chance maior não só de encontrar uma boa compatibilidade, mas uma excelente compatibilidade”, disse, acrescentando que 27 horas é tempo suficiente, inclusive, para transportar órgãos de um país para outro. Embora o estudo tenha sido feito em fígados, os autores não descartam que a técnica pode ser testada em outros tipos de órgão.

Antioxidade para armazenar Pesquisadores do Instituto de Física e Tecnologia de Moscou e do Instituto de Biofísica Celular da Rússia mostraram que um composto antioxidante conhecido como peroxiredoxina é eficaz no tratamento de lesões renais em ratos. O estudo, publicado na revista Cell and Tissue Research, relata taxas de sobrevivência triplicadas em animais tratados com o produto químico antes de sofrerem uma lesão de isquemia-reperfusão. A equipe diz que a peroxiredoxina também oferece perspectivas de armazenamento mais prolongado de rins doados para transplante.

Os tecidos vivos dependem de um fluxo constante de sangue para sobreviver. Restrições no suprimento sanguíneo, conhecidas como isquemia, levam à escassez de oxigênio e de nutrientes. Isso pode tornar o tecido mais ácido e prejudicar a permeabilidade da membrana celular. Por fim, podem surgir danos nos tecidos, sendo que rins, coração e nervos são os mais vulneráveis. Quando o fluxo normal é retomado, essa chamada reperfusão não causa a regeneração do tecido danificado. Em vez disso, a concentração de espécies reativas de oxigênio (EROs) aumenta, provocando estresse oxidativo e prejudicando ainda mais as células. Uma contagem de EROs patologicamente alta pode desencadear a autodestruição celular, o que é conhecido como apoptose.

As causas da isquemia incluem constrição dos vasos sanguíneos, alterações na pressão arterial ou na frequência cardíaca, hemorragia e trauma. A síndrome de isquemia-reperfusão permanece um fator-chave nas patologias de órgãos. Quando afeta os rins, pode ocorrer insuficiência renal aguda, resultando em morte em metade dos casos.

Como o estresse oxidativo está envolvido no dano tecidual causado por isquemia-reperfusão, os antioxidantes são opção de tratamento particularmente promissora por reduzirem o estresse oxidativo, disseram os autores do estudo. Na pesquisa, eles usaram enzimas peroxiredoxinas para tratar isquemia-reperfusão renal

A lesão foi modelada em camundongos, divididos em dois grupos: que recebeu tratamento com PRX6 e que não recebeu. No último grupo, um em cinco camundongos sobreviveu no quarto dia, em comparação com três em cinco cobaias. 

Fonte: Correio Braziliense

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