A população negra compõe mais da metade dos brasileiros. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 54% da população do país se autodeclara negra. Além do racismo encarado diariamente e apesar de algumas conquistas institucionais, pessoas negras devem ficar alertas para o risco de desenvolverem alguns problemas de saúde, principalmente por conta de questões genéticas que aumentam a vulnerabilidade a determinadas enfermidades. Veja abaixo as doenças mais frequentes na populança negra e como preveni-las.
PRESSÃO ALTA
De acordo com a hipótese mais aceita, a maior predisposição da população negra para a hipertensão tem origem no nosso período colonial. Naquele tempo, pessoas negras eram trazidas à força do continente africano para serem escravizadas. Em longas viagens de navio, com infraestrutura precária, água e alimentação restritas e expostos a doenças que provocam diarreia, muitos morriam de desidratação. Sobreviviam aqueles que tinham maior capacidade de reter sal e, consequentemente, água. O problema é que exatamente a característica que lhes salvou a vida à época, agora aumenta o risco de pressão alta.
Portanto, a recomendação para evitar a doença é consumir sal com muita parcimônia (menos de 5 gramas por dia, cerca de uma colher de chá), medir a pressão arterial com frequência (pelo menos uma vez por ano), praticar atividade física com regularidade, evitar a obesidade e a ingestão de álcool e parar de fumar.
ANEMIA FALCIFORME
O índice de incidência de anemia falciforme varia de 2% a 6% na população brasileira em geral. Na população negra, fica entre 6% e 10%. A doença se caracteriza por uma alteração nos glóbulos vermelhos, que perdem a elasticidade e a forma arredondada, endurecem e adquirem o aspecto de uma foice (daí o nome falciforme). A diferença dificulta a passagem do sangue pelos vasos de pequeno calibre e, consequentemente, afeta a oxigenação dos tecidos.
É uma doença genética e hereditária, que não tem prevenção. A única forma de cura é por transplante de medula óssea, método restrito devido à dificuldade de se encontrar doadores compatíveis. Mas, felizmente, a anemia falciforme pode ser identificada logo ao nascer, por meio do teste do pezinho, o que facilita o acompanhamento médico desde cedo.
Não existe tratamento específico para a doença, mas quem tem anemia falciforme precisa de acompanhamento médico constante. Em geral, especialistas recomendam terapias para diminuir as crises decorrentes da doença, como por exemplo a quelação de ferro em pacientes que tenham o mineral em excesso.
DIABETES
O diabetes atinge com mais frequência os homens negros (9% a mais que os homens brancos) e as mulheres negras (em torno de 50% a mais que as mulheres brancas). Felizmente, diabetes tem prevenção, que inclui consumo moderado de açúcar e carboidratos simples (como arroz branco, farinha de trigo e batata inglesa), prática de atividade física, controle dos níveis de glicose no sangue e manutenção do peso ideal.
CÂNCER DE PRÓSTATA
Ainda não se sabe com clareza quais as razões, mas homens negros apresentam risco de desenvolver câncer de próstata de duas a três vezes maior que o restante da população masculina, bem como o dobro da probabilidade de morrer por conta da doença. Além disso, a ocorrência desse tipo de câncer nos homens brancos acontece em geral a partir dos 50 anos, ao passo que negros costumam desenvolver a enfermidade entre cinco e dez anos mais cedo.
A Sociedade Brasileira de Urologia recomenda que homens negros vão ao urologista a partir dos 45 anos, diferentemente da recomendação geral, a partir dos 50 anos. Médico e paciente devem conversar sobre os riscos e benefícios de realizar os exames de rastreamento, como o exame de toque, PSA e biópsia.
GLAUCOMA
O glaucoma é considerado a principal causa de cegueira irreversível no mundo. É mais prevalente na população negra em função do aumento da pigmentação nos olhos. A doença não apresenta sintomas na sua fase inicial, por isso é considerada silenciosa e traiçoeira. Muitas pessoas só desconfiam de que há algo errado quando percebem a perda da visão periférica, sintoma que se manifesta quando a doença já está em estado avançado.
O diagnóstico precoce facilita o tratamento. Por isso a importância de consultar um oftalmologista anualmente a partir dos 40 anos, para realizar exame de fundo de olho e medir a pressão ocular.
SUICÍDIO
O suicídio não é uma doença em si, mas uma consequência de alterações psicológicas. Em 2016, os negros representaram 55% dos adolescentes e jovens que cometeram suicídio no Brasil, sendo os homens negros o grupo de maior risco. A discriminação racial, o desamparo, a desigualdade social e a dificuldade de acesso a serviços de saúde são alguns dos possíveis fatores que tornam o suicídio mais frequente nessa população.
Fonte: Drauzio Varella
Comments