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Viver em um dos países mais felizes do mundo é tão bom quanto parece? Pesquisa revela que muita gente fica triste com isso

Foto do escritor: Portal Saúde AgoraPortal Saúde Agora


Você já deu uma olhada nos rankings internacionais dos países mais felizes do mundo? Recentemente, medir os níveis subjetivos de felicidade de um país tornou-se quase um esporte internacional. As pessoas olham com interesse (e um pouco de inveja) para nações como a Dinamarca, que consistentemente lidera os rankings mundiais de felicidade.


Isso também levou à popularidade de práticas dinamarquesas, como o estilo de vida “hygge”, um conceito que representa a busca por conforto, aconchego e bem-estar, em outros lugares. Se ao menos pudéssemos adicionar mais aconchego às nossas vidas, talvez fôssemos tão felizes quanto os dinamarqueses!


Mas será que viver em um dos países mais felizes do mundo é tão bom quanto parece? O que acontece se você tiver dificuldade em encontrar ou manter a felicidade em meio a um mar de pessoas (supostamente) felizes?


Em nossa nova pesquisa, publicada na Scientific Reports, descobrimos que, em países que lideram o ranking de felicidade nacional, as pessoas também têm mais probabilidade de experimentar um bem-estar ruim devido à pressão social para ser feliz.


Portanto, viver em países mais felizes pode ser bom para muitos. Mas, para alguns, isso pode acabar sendo algo difícil de corresponder e ter o efeito oposto.


Ampliando nossa pesquisa


Por vários anos, meus colegas e eu temos pesquisado a pressão social que as pessoas podem sentir para experimentar emoções positivas e evitar as negativas.


Essa pressão também é transmitida por canais como redes sociais, livros de autoajuda e publicidade. Eventualmente, as pessoas desenvolvem uma noção de quais tipos de emoção são valorizados (ou não) por aqueles ao seu redor.


De forma irônica, nossa pesquisa anterior mostrou que quanto mais as pessoas sentem pressão para serem felizes e não tristes, mais tendem a experimentar depressão.


Embora essa pesquisa tenha se concentrado principalmente em pessoas que vivem na Austrália ou nos Estados Unidos, ficamos curiosos sobre como esses efeitos poderiam se manifestar em outros países.


Em nosso estudo mais recente, pesquisamos 7.443 pessoas de 40 países sobre seu bem-estar emocional, satisfação com a vida (bem-estar cognitivo) e queixas de humor (bem-estar clínico). Em seguida, comparamos esses dados com a percepção das pessoas sobre a pressão social para sentir-se positivo.


O que descobrimos confirmou nossas conclusões anteriores. Em todo o mundo, quando as pessoas relatam sentir pressão para serem felizes e evitar a tristeza, elas tendem a apresentar déficits na saúde mental.


Ou seja, experimentam menor satisfação com a vida, mais emoções negativas, menos emoções positivas e níveis mais altos de depressão, ansiedade e estresse.


Curiosamente, nossa amostra global nos permitiu ir além de nossos estudos anteriores e examinar se havia diferenças nessa relação entre os países. Será que em alguns países essa relação é especialmente forte? E, em caso afirmativo, por quê?


Não é um problema uniforme


Para investigar isso, utilizamos dados de cada um dos 40 países extraídos do World Happiness Index, coletados pela Gallup World Poll. Esse índice é baseado nas avaliações subjetivas de felicidade de amostras nacionais representativas em larga escala.


Isso nos permitiu determinar como a felicidade geral de uma nação – e, portanto, a pressão social sobre os indivíduos para serem felizes – poderia influenciar o bem-estar pessoal.


Descobrimos que essa relação de fato varia, sendo mais forte em países que ocupam posições mais altas no World Happiness Index. Ou seja, em países como a Dinamarca, a pressão social que algumas pessoas sentiam para serem felizes era especialmente preditiva de uma saúde mental ruim.


Isso não significa que, em média, as pessoas não sejam mais felizes nesses países – aparentemente, elas são. Mas, para aqueles que já sentem muita pressão para manter a positividade, viver em nações mais felizes pode levar a um pior bem-estar.


Por que isso acontece? Concluímos que estar cercado por um mar de rostos felizes pode agravar os efeitos de já se sentir socialmente pressionado a ser feliz.


Claro, os sinais de felicidade dos outros não se limitam à expressão explícita de alegria, mas também aparecem em pistas mais sutis, como maior contato social ou envolvimento em atividades prazerosas. Esses sinais tendem a ser mais fortes em países mais felizes, intensificando os efeitos das expectativas sociais.


Nesses países, sentir-se feliz pode facilmente ser visto como a norma esperada. Isso aumenta a pressão social para aderir a essa norma e agrava as consequências para aqueles que não conseguem alcançá-la.


Qual é a solução?


Então, o que podemos fazer? Em um nível pessoal, sentir e expressar felicidade é algo positivo. Mas, como outras pesquisas mostram, às vezes é bom ser sensível ao modo como nossa expressão de emoções positivas pode afetar os outros.


Embora seja bom trazer felicidade e positividade às nossas interações, também é importante saber quando diminuir o tom – evitando alienar aqueles que não compartilham de nossa alegria no momento.


De forma mais ampla, talvez seja hora de repensar como medimos o bem-estar nacional. Já sabemos que prosperar na vida não se resume apenas a emoções positivas, mas também a responder bem às emoções negativas, encontrar valor no desconforto e focar em outros fatores, como significado e conexões interpessoais.


Talvez seja hora de classificar os países não apenas por quão felizes eles são, mas por quão seguros e abertos eles são à ampla gama de experiências humanas.


Fonte: O Globo

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