Pessoas infectadas pelo novo coronavírus podem passá-lo adiante sem sequer estarem com sintomas clássicos da Covid-19. E um pequeno estudo, feito na Alemanha, indica que a fase inicial da doença – quando sinais mais severos nem deram as caras – pode ser um momento em que a transmissão acontece com maior facilidade.
O estudo acompanhou, a partir do final de janeiro de 2020, nove pacientes de Munique, na Alemanha, que testaram positivo para o Sars-CoV-2. Todos os voluntários analisados sentiam sintomas moderados da doença, como febre, tosse e dor de cabeça. A ideia era usar amostras de muco do nariz e garganta, sangue e urina para monitorar, por 14 dias, variações na carga viral e no número de anticorpos. Um artigo científico que descreve o estudo foi publicado na última quarta-feira (1) na revista Nature.
A pesquisa mostrou que a concentração do vírus (ou carga viral) das amostras teve seu ápice nos primeiros cinco dias após o início dos sintomas. Nesse período, pesquisadores notaram quase o dobro de pedaços de RNA do vírus nas amostras. Depois dessa fase inicial, o número máximo de cópias de material genético viral era drasticamente reduzido.
A quantidade de vírus no corpo dos voluntários só abaixava a um nível suficiente para não infectar mais outras pessoas a partir do décimo dia de sintomas. Parte dos pacientes tinha criado anticorpos a nível suficiente para lidar com o vírus a partir do sétimo dia. Só ao final de 14 dias é que todas as pessoas testadas já tinham anticorpos o bastante.
Ou seja: quando alguém sai de casa sem saber se o que está sentindo é mais do que uma gripe comum, está submetendo outras pessoas a um risco ainda maior. Isso acontece porque tosses ou espirros do início da infecção podem carregar uma quantidade maior de vírus se comparados a gotículas espalhadas num momento posterior. Com o avanço da doença, de acordo com o que mostrou o estudo, a tendência é que a chance de transmissão se torne menor.
De acordo com os pesquisadores, foi possível detectar a presença do novo coronavírus nas amostras também depois de os sintomas desaparecerem. A ciência já provou que, em certos casos, uma pessoa com Covid-19 passa o ciclo todo da doença sem desenvolver um único sintoma – caso de um dos 9 voluntários analisado no estudo. Apesar de não passarem à frente o vírus da maneira convencional, pacientes nessa situação ainda poderiam contaminar outras pessoas.
Ainda são necessários novos estudos para confirmar o potencial de infecção do vírus em cada fase da Covid-19 – e em quanto tempo o corpo passa a produzir anticorpos para lidar com o invasor. No entanto, a nova pesquisa é importante por reforçar a importância da quarentena voluntária e do isolamento completo de casos suspeitos. Enquanto uma vacina ou medicamento obtém sucesso no combate ao novo coronavírus, essa segue sendo a única maneira eficaz de frear o espalhamento da doença.
Fonte: SuperInteressante
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